Vigoroso e doce uníssono

No começo da década de 2000, eu viera de Bauru para Osasco para passar alguns dias com minha família. Era dia útil e não consegui pegar no sono em dada noite (provavelmente vim para cá aproveitando um feriado prolongado) . As horas se passavam como se pingassem de um conta-gotas e eu quedei muito triste e desanimado.

Então resolvi ligar a TV. Porém, durante o zapear dos canais, acabei deixando na Rede Cultura ("canal 2"). Estava passando uma apresentação de música clássica que me chamou a atenção.

Aquela peça acabou logo, durou pouquíssimos minutos. O que me chamou atenção foi que o naipe de cordas tocava um vigoroso, ondulante e doce uníssono. Foram exíguos minutos de uma lindeza encantadora. Só aquilo bastou para varrer a minha tristeza e me deixar alegre naquelas horas mortas.

Como acabasse logo, fixei meio desesperado a atenção no GC que surge e some muito rápido no rodapé da telinha. Gravei os nomes "Górecki" e "Três Peças em Estilo Antigo". E acabou o programa (ou concerto). Não consegui ver que orquestra, regente, local e data eram aqueles. Todavia, o mais importante havia fixado na memória.

Não custa lembrar que aquele início de década (e de século e de milênio também) não era exatamente como é agora. Pelo contrário, era bastante diferente, apesar dos poucos anos que nos separam de um e outro. Não dava para simplesmente "jogar no Google" aqueles nomes e encontrar uma batelada de resultados no Youtube.

Guardei "Górecki" e "Três Peças em Estilo Antigo" na cabeça e anotei a caneta os nomes numa caderneta de papel (costume que conservo até hoje, graças a Deus). Só depois de muitos anos é que encontrei novamente aquela peça e pude ouvir melhor do que se tratava.

O que peguei naquela madrugada no canal 2 foi o terceiro movimento da pequena peça intitulada "Três Peças em Estilo Antigo", do compositor polonês Henryk Górecki (se pronuncia /Gorétski/). Os dois movimentos anteriores são tão lindos quanto o último, vale a pena conhecer e apreciar essa peça que me reergueu de uma fossa numa madrugada insone.

Poderia fazer diferentes comentários a respeito, mas acho que o que diz respeito a Deus é o mais útil agora. Eu não estava sozinho. Você que, por providência, ler estas linhas, também não está sozinho. O Senhor nos busca, e nos quer muito.

"Onde abundou o pecado, superabundou a graça", como diz São Paulo na Epístola aos Romanos. Não custa lembrar que aqui é Osasco, uma cidade fronteiriça à capital, com centenas de milhares de habitantes. Cidade pujante hoje em dia, com indicadores que enchem os olhos, só que também extremamente dura e isoladora, correspondendo bem à expressão "selva de concreto".

Não é porque se está aqui que se fica refém dos cipós do funk de morro, pancadões, rap e hip-hop. O Senhor não é rasteiro e sujo, massificado e de esquerda. Não mesmo. Deus é muito bom, e ao querer que nos voltemos a ele, usa de meios sãos, limpos e elevantes. Ainda que "esteja no meio de nós", como se diz na Santa Missa, Nosso Senhor e Salvador habita no Céu, e é para lá que nos quer levar.

Ressalta ainda da bondade de Deus ter escolhido um meio convenientemente católico para me reerguer naquela madrugada: uma peça de um compositor polonês, conterrâneo do grande Papa João Paulo II, o qual, em homenagem ao saudoso Vigário de Jesus na terra, compôs a lindíssima peça "Totus Tuus", como vim a descobrir muito tempo depois.

"Onde abundou o pecado, superabundou a graça", da Epístola aos Romanos, pertencente ao Novo Testamento. Rumine isso. E recorra sempre a uma edição católica da Sagrada Escritura, contendo 73 livros. As de 66 livros são falsificadas - essas você pode pisar em cima, chutar, rasgar ou tocar fogo (Deus se alegra com isso e cumula de graças quem age assim).

Rafael Aparecido
Enviado por Rafael Aparecido em 19/05/2024
Reeditado em 20/05/2024
Código do texto: T8066291
Classificação de conteúdo: seguro