Mais um pôr-do-sol

Há pessoas que nascem marcadas e esse sinal que já trazem de nascença lhes dão certeza de que um dia triunfarão. Um dia, seja daqui a um ano ou um século, a luz irá brilhar mais forte em sua direção. E é essa certeza faz com que não desanimem, não joguem a toalha e vivam um dia após outro, não como se fosse o último, mas o único que mereça ser vivido e contemplando como um lindo pôr-do-sol.

Pessoas assim merecem esta singela homenagem porque são exemplos de vida. São pessoas especiais que ocupam um lugar na área vip de muitos corações. Às vezes achamos que o nosso fardo é muito pesado, o problema é maior, a dor é mais forte, a fome é mais intensa, o vento é bem mais indomável… O que dizer dos que perderam os braços e dependem de outros para carregarem o mais “leve” dos fardos? O que dizer das pessoas que encontram inertes nos hospitais presos aos aparelhos? E o que dizer daqueles que não tiveram leito disponível e a vida esvai nos corredores dos hospitais públicos? São tantas pessoas com problemas difíceis que os nossos parecem fictícios. E são essas pessoas que parecem ter tão pouco, dariam o que restam pelo prazer de mais um pôr-do-sol que insistimos em fechar os olhos diante do espetáculo da vida.

Definitivamente, se estamos nesse momento escreven-do/lendo/criticando/sorrindo é porque o nosso problema é minúsculo. Os atletas das paraolimpíadas nos dão lição a cada prova disputada. Não é prazer de ganhar que eles comemoram, mas de superar os próprios limites. Pedimos tanto e agradecemos tão pouco. Obrigada Sol! Obrigada, chuva! Mesa farta, saúde, raros e preciosos amigos, família, filhos… Obrigada por vocês existirem… Quantas pessoas se trancaram para a vida e só enxergam a própria dor do dedão do pé… Apenas o próprio calo que o sapato apertado deixou e continuará deixando enquanto insistir usá-lo. Tire os sapatos e feche os olhos. O sol está se pondo e uma noite estrelada virá iluminar você.

Quando tiveres triste, pense naquele jogador que ao receber um cartão vermelho injustamente deixa o campo de batalha cabisbaixo porque sabe que fez uma boa partida, deu o melhor de si. Mas, o juiz é quem manda. Ele sai triste, com a certeza de que sua saída é temporária, outros jogos virão e quem sabe ele poderá marcar o melhor gol da sua história. Assim, como esse jogador há pessoas que vivem a nos dá lições de amor todos os dias. Dão-nos um sorriso a cada amanhecer e transmitem no olhar uma paz e uma tranquilidade como se dissessem: “Ainda bem que o juiz apenas me marcou, mas não me expulsou de campo, hoje tenho mais um pôr-do-sol para apreciar.”