NÃO TER CONSCIÊNCIA DA DOENÇA É SER SAUDÁVEL

Me lembro de um frango que levou uma pedrada na cabeça e viveu durante um bom tempo com a cabeça sem tampo e com os miolos aparecendo. Era um dos que minha mãe criava e nos faria falta se simplesmente o sacrificássemos. Um animal quando está doente ou quando sofreu avariação em sua carcaça ele ignora o fato e simplesmente continua vivendo. Ele deixa que a natureza se incuba de restaurá-lo ou, caso ele piore ou morra, ele não faz distinção de estado entre estar doente ou morto e estar a seguir o curso natural da vida. Ele apenas vive. Sem roteiro para o dia seguinte, sem expectativas de saúde para dar ou não sequência aos seus afazeres. A matrix que ele segue é a mais natural possível, ainda que domesticado. Desde, é claro, que ele não seja daqueles animais desafortunados que o destino preparou para eles uma vida confinada e à base de rotinas, que envolvem até o seu crescimento, cronometradas por gestores de produção pecuária.

Não ter consciência da doença é uma forma de estar saudável. Tudo na vida humana é rotulado e é por causa dos rótulos que toda a infelicidade acontece. Quando somos diagnosticados com uma insanidade, associamos o cometimento a perdas de diversos tipos, sendo a mais temível a da própria vida, pois a morte passa a ser vista como a estar mais próxima.

E isso piora se durante o tempo que vivemos enchemos nossa cabeça com a programação da matrix religiosa cristã. Achamos que devíamos ter sido caridosos ou que devíamos ter perdoado ou ter pedido perdão para alguém ou por alguma coisa. Passamos a precisar nos sentir confortáveis com tudo e com todos para o que advirá: a vida após a morte. Esta, fadada a ser bastante repelente para quem não cuidou de ser cuidadoso com o que prega a moral religiosa. Em questão a cristã. Uma moral que leva em conta fatos da existência terrena para se avaliar com justiça o merecimento na próxima. E ainda há a descabida história do inferno e da figura do temido demônio. Um ser que ninguém gostaria de se confrontar com ele ao passar para o além. Tememos tanto o encontro com esse ser que nunca paramos para pensar o quão ridículo é a possibilidade de ele realmente existir ou vir a querer realmente nos fazer mal por causa dos nossos pecados. Pecados que o próprio homem cuidou de construir para nós e que interessa a ele, o diabo, nossos vacilos. Seria para ele uma forma de ele se vingar do seu opositor, Deus, castigar os pecadores. Não estaria ele, o diabo, fazendo um favor para o seu opositor nesse caso? Que vingança absurda: cumprir ordens nós aqui na Terra cumprimos a vida toda e não nos sentimos melhores do que Deus por isso. Por sorte, a figura do demônio punidor só existe no cristianismo, sequer na cultura que deu origem ao cristianismo, a hebraica, ele existe. É boa tática, então, para um cristão em leito de morte, se converter à outra religião minutos antes de decair-se definitivamente para as profundezas.

Assim como esquecemos que nenhum ser humano pode nos informar o que acontece depois que partimos deste mundo, pois não há evidências incontestáveis de que alguém tenha estado lá e depois voltado para nos dizer seguramente qualquer coisa, esquecemos também que nenhum ser humano é capaz de estabelecer para o que sentimos em nosso interior um diagnóstico exato.

Ninguém consegue saber corretamente o que está se passando emocionalmente, incluindo a sensação de dor, dentro de outro ser humano. Muitas vezes, fazer perguntas para um moribundo e obter dele "sim" como resposta pode significar acato a sugestões enviadas diretamente para a sua mente fragilizada e afoita por alguém que transmita confiança em entender o que se passa com ele e receitar-lhe o tratamento que o fará livre do desespero. Somos seres psicologicamente influenciáveis.

Os sintomas e os resultados demonstrados por exames de amostras orgânicas como a de sangue podem informar para um profissional de análise clínica as carências ou os excessos de elementos que provocam alterações no funcionamento de um paciente. Podem também apresentar um causador ou possível causador para as alterações. Mas não é definitivo que o quadro não possa ser, naturalmente ou não, revertido ou prolongado por mais tempo do que o que o médico determina.

Os diagnósticos são mais achismos do que reais. A morte não pode ser determinada nem pela própria natureza, por que permitimos que um médico determine, preveja, dê-nos tantos dias para se viver? Ou, então, outros enganadores como os astrólogos com sua conversa fiada sobre uma tal linha do destino, da qual não se pode sair dos eventos para a nossa vida que ela controla, ou como os videntes ou necromantes, com sua história de karma ou de vidas passadas, alcance de virtudes e fim dos trabalhos na terra. Nossa saúde é entregue a charlatões em vez do verdadeiro mantenedor ou delimitador dela: nós mesmos com o auxílio da natureza, que é o verdadeiro Criador.

Querer estar a morrer ou querer adoecer é ser medicado ou diagnosticado de qualquer coisa por um agente da medicina. Qualquer uma delas. Menos a pagã ou a xamânica, que não procuram fazer previsões sórdidas para os pacientes. Apenas dizem o que tem quem procura seus curadores e passam para ele a melhor profilaxia e os melhores remédios. Tudo baseado em alteração do padrão de comportamento perante o mundo e perante a si e uso de ervas naturais e minerais vindos diretamente do solo.

E não que seja culpa dos outros médicos, médiuns e curandeiros agirem como agem, é claro! Eles também foram preparados pelo sistema a que servem. Tiveram eles em sua formação uma matrix que favorece o andar da carruagem tal qual se conhece em cada nicho civil, místico ou religioso. Fazer o capitalismo girar é uma preocupação incutida na matriz de ensino da medicina convencional. Com crenças e costumes implantados em nossas mentes, todos os sistemas fluem. Quem está na casta que compreende os cobaias dos sistemas é tratado como um operário às vezes, um rato de laboratório ou um palhaço.

Às vezes causamos nossas próprias doenças, tal qual nos diagnosticam. E até a nossa própria morte. E com a rapidez do prazo que nos dão ocorre nosso calvário. A natureza é perfeita em atender os desejos dos nossos pensamentos. Tão somente porque ficamos com as palavras dos charlatões na cabeça e passamos a nos carcomer. Psicologicamente nos colocamos nas condições internas e externas para que o que se passa em nossa mente, a sugestão nos implantada, se processe.

Nos enchemos de tristeza e de desespero, de medo e de ansiedade para resolver coisas antes de partir. É uma das instruções que recebemos durante a formação do nosso conhecimento e acepções: morrer sem deixar pendências. Nos ocupamos em satisfazer nossos programadores de mente em vez de nos distrair, de nos encher de alegria e com isso driblar nosso corpo com comportamentos contrários aos que ele utiliza para nos viabilizar o quadro doentio. Podemos, por exemplo, forçar para nós um estado permanentemente alegre e nos manter sorrindo. É até fácil isso e até entre os produtos nocivos que a vida cultural nos oferece é possível encontrar o que nos possibilita enganar nosso corpo nos mantendo em gargalhadas. Estou falando de peças cômicas sim.

Estar alegre é fazer os hormônios trabalharem para nos tornar saudáveis. Procedendo assim, por falhar a saúde jamais morreremos. Quem quiser nos matar terá que ser menos sutil e mais direto. Ou seja: não terão como nos causar doenças para tirar proveito delas sem que percebamos e deixemos de cooperar com comportamento apropriado e com dinheiro.