Faltava Algo...

Tudo estava perfeito até, tudo reluzia em torno do Natal,

na mesa comidas diversas em abundância.

A árvore de Natal brilhava com seus enfeites coloridos,

embaixo os presentes mal tinham espaço.

Tudo estava impecável.

Mas... Faltava algo.

Minha mãe com pose de rainha exibia seu vestido exuberante,

feito especialmente para a ocasião.

Meu pai orgulhoso como quem nada quer

mostrava com falta modéstia as bebidas importadas,

muitas adquiridas em viagens, outras de presente,

Cada qual com seu estilo de sabor e beleza do país de origem.

Sentia-a triste.

Olhava tudo em seu perfeito detalhe,

mas uma angústia tomava conta de meu coração, de meu íntimo.

Pela primeira vez percebi que não fazia parte daquilo tudo.

Tudo me era estranho, vazio.

Porque algo faltava.

Não sabia o que. Mas faltava algo.

Resolvi sair, minha mãe indagou:

- Aonde vai?

Por ai, respondi.

- Justo agora que chegam os convidados?

Senti-me mais distante ainda e sai.

Meus pais pouco se importaram, afinal tinham que receber pessoas do nosso nível e apresentar o luxo, as novidades.

Fiquei andando sem rumo pela cidade.

Deparei com uma garotinha sentada à beira da calçada, de cabeça baixa percebi que chorava lágrimas cheia de sentimento, quando levantou seus olhinhos, constatei grande pureza naqueles olhos azul.

Meio sem jeito perguntei:

- Por que chora menina? Hoje é Natal.

- Eu sei senhor, mas eu gostaria de dar um presente para meus pais e não posso. Sei que eles também estão um pouco triste, porque não podem dar a boneca que eu queria. Mas eu os amo e sei que não podem, mas queria dar um presente para eles.

Novo soluço se fez depois o silêncio.

Quando tentei falar, ela rapidamente se levantou e quase que correndo entrou numa casinha ali perto.

A curiosidade me moveu, discretamente olhei pela vidraça daquela casa simples, no interior se encontrava a menina e seus pais.

Dei uma olhada rápida e sai para voltar pouco depois. Meio acanhado bati à porta.

O pai da menina veio atender, quando ela me viu, sorriu.

Nunca em minha vida tinha visto sorriso tão lindo e sincero.

Ela levantando-se, disse:

- Papai, mamãe, esse é o moço de quem falei.

Fiquei sem jeito e ainda na porta ouvi:

- Entre senhor, está quase dando meia noite, já chega o Natal, só não repare, por favor, é tudo que temos, graças ainda damos.

Na mesa tinha: arroz, feijão e pão. Mas nos rostos daquelas pessoas estampava serenidade, paz, união e muito, muito amor.

Coloquei o pacote em cima da mesa, um frango assado.

Para a menina entreguei outro pacotinho, uma boneca simples, mas de coração.

Ao fazer estes gestos recebi três sorrisos a me dizer obrigado, muito obrigado.

Sentamos à mesa, que de simples se tornou oração.

De mãos dadas o pai da menina fez uma prece.

Prece que fez as emoções fluírem em meu corpo, elevou meu espírito a um estado de paz que jamais senti.

“Deus a vós agradecemos por mais esta noite, ainda mais sendo o nascimento de seu filho Jesus”.

Que vosso amor, vossa paz penetre no coração de cada homem e que cada um possa levar ao seu semelhante um pouco de solidariedade, felicidade.

Que saibam os homens repartir o pouco que tem.

Porque junto de vós Senhor, o pouco se torna eficiente para matar a fome do corpo dos muitos que nada tem.

Porque a fome do espírito Senhor só com vós em verdadeira comunhão, fé, podemos saciar.

Obrigado Pai Celestial por mais este Natal, agradecemos o alimento exposto em nossa mesa.

Que suas bênçãos desça sobre eles, dando-nos paz, saúde, coragem, resignação, aceitação, prosperidade, amor, felicidade e conserve entre nós esta união, onde o convidado ilustre é vosso filho Jesus”.

Amém Senhor!

Ao acabar a prece senti lágrimas correr pelo meu rosto.

Pensei em minha casa, em meus pais com tanto luxo, tanta fartura, orei por eles pedindo-lhe bênçãos.

Agora sabia o que me faltava.

Ao entrar nesta casa com pessoas tão simples, humildes e humanas, que me ensinaram e mesmo sem querer ajudaram a descobrir o que me faltava.

E o que faltava era a presença de Jesus!

Boas Festas...

escrita em

23/11/99

14:45

Arisia Bertolo
Enviado por Arisia Bertolo em 23/07/2007
Código do texto: T575918