Impetuosidade? Dane-se!

Meu chefe andou me criticando por ser demasiadamente impetuoso. Sim, e daí, dane-se ele foi o que pensei logo que saí da sala da mijada – a bolha, lugar onde eu e meus colegas somos orientados e muitas vezes criticados pela forma como conduzimos nossas ações. Claro que me irritei com o comentário, é muito melhor ouvir elogios que críticas. E neste caso, como em muitos outros, achava que a crítica estava equivocada. Grande coisa, de que adianta argumentar se é ele quem banca o mísero salário que uso para colocar arroz e um pouco de feijão na mesa todos os dias. Realmente, não posso negar, ele tem mais experiência e deve saber do que está falando. Ainda assim, creio que tenho um pouco de razão e sei – se ele ler isso é bom que saiba que eu sei mesmo – muito mais do que ele no que diz respeito a algumas coisas.

Não, eu não sou exemplo de herói moderno nem quero servir de modelo para as criancinhas que passam dificuldade. O que sei, na verdade, se resume a minha vida e a tudo que passei para aprender – com esse chefe e outros companheiros de jornada (curta por sinal, ainda sou um guri de 23 anos) a fazer meu trabalho da melhor maneira. O que me irrita, e talvez isso seja culpa da minha juventude como o chefe sugere, é o fato de nunca o trabalho ser reconhecido. Porra (professora, desculpa o palavrão, mas é necessário para demonstrar a irritação!), custa dizer que está bom? Bueno, dia desses, o indivíduo se irritou porque reivindiquei dinheiro para fazer melhor meu trabalho. Sinceramente, acredito que o meu esforço deveria ser melhor recompensado. Dane-se não é? Afinal, todo mundo no Brasil quer ganhar mais.

Ainda assim, vou explicar aos prezados leitores e ao prezado chefe – se é que ele vai ler este manifesto inútil – o porquê de meus pedidos. Para começar, não nasci em berço de ouro, embora não possa me queixar da infância ou adolescência. Acasos da vida acabaram com as projeções que eu havia feito antecipadamente – aqueles sonhos de faculdade e um trabalho legal (rentável!) foram por água abaixo a partir de uma doença. E, sim, isso afetou minha vida, minha saúde monetária ficou abalada e provavelmente um psicólogo se interessaria pela complexidade dos meus pensamentos. Mais uma vez, dane-se! Isto não é importante. Retomando a linha de pensamento, prezado leitor (e chefe, se ainda estiver aí), o que quero dizer é que para fazer isso eu tive que passar por dificuldades bem maiores do que outros. Meu papai não bancou minha faculdade, aliás ainda nem pude pegar um diploma (porque é isso que fazem hoje, pagam a conta e pegam o canudo). Meu papai não tinha uma empresa e não morreu me deixando ela para eu tocar, porque mesmo que eu fosse um acéfalo não seria imbecil de colocar um grande patrimônio no pau. Ou seja, deve causar inveja estas linhas tão bem escritas a quem sempre soube escrever como o professorzinho particular ensinava. Ainda deve ser mais triste reconhecer que mesmo saindo do nada, um guri pode alcançar um sucesso. Ora, eu só queria ser motivo de orgulho para o meu criador – e não falo de Deus, mas do meu pai. Ele que me ensinou que tudo que fizesse com amor e esforço seria recompensado devidamente. Talvez deva ser por isso que meu pai acabou dois anos sofrendo em uma cama sem nenhum amigo o visitando, porque era um sonhador. E agora, não venham me criticar quando eu ultrapassar a linha da corrupção e vender a minha inteligência em troca de alguns trocados. Ah, claro, parece muita petulância escrever estas coisas. Deve ser coisa da juventude!