Para minha filha Márcia... Feliz aniversário!
Um dia eu sonhei que o sol nascia para todos e acreditei que ele
também nasceria pra mim.
E esse dia aconteceu quando, há há mais de trinta anos, soube que
você nasceria para iluminar o meu mundo.
Até aquele dia, tudo havia sido somente escuridão.
Porém, para minha tristeza, eu ainda não estava pronta para ver o
brilho desse sol na minha vida.
E, quanto mais esse sol subia para o alto do meu nublado céu, mais
apavorada, amedrontada eu ficava.
Como ter um sol brilhante, esplendoroso e radiante em sua vida
quando só se conhece as noites de tenebrosas tempestades?
E, temendo o fulgor desse sol, escondi-me, fugi dele.
E, como ele teimava em brilhar em meu cinzento céu, tranquei-me em
minha triste e escura casa, pois tinha medo da felicidade que a luz
clara e simples que o sol, com o qual tanto sonhei, que tanto desejei,
brilhasse para mim também.
Filha, você foi o sol da minha vida e ainda o é.
Lembro-me ainda hoje, da imensa felicidade que senti ao saber que
você viria para iluminar o meu mundo.
E, por tanto medo do amor avassalador que sempre senti por você, me
tranquei.
A assustadora certeza de que um dia eu poderia perder você, depois de
saber que era a minha salvação, me deu medo. Muito medo.
E, depois, nunca mais consegui encontrar o caminho de volta, que
pudesse me levar até você.
Sei que não consigo tocá-la. Sinto imensa dor por isso.
Sinto que não encontro o caminho que me leve ao seu coração. Sinto
por isso.
Sinto que todas as vezes que percebo o raio de sol forçar entrada em
meu escuro lar para se apresentar a mim, mesmo por uma ínfima fresta, eu
o obscureço, por que amá-la tanto me dói, me machuca e me arrasa o
coração.
E, por você ter sido o primeiro amor de minha vida, o medo foi mais
assustador, mais paralisante, mais concreto.
Talvez, eu nunca consiga lhe demonstrar todo o amor que sinto por
você.
Talvez eu nunca encontre o caminho, a ponte, a porta que me leve até
você.
Mas saiba que meu amor por você é tão imensurável, que as palavras
nunca poderiam exprimi-lo e número algum, por mais irreal que pareça,
poderia medi-lo.
Esse sentimento não se classifica, não se traduz, não se analisa.
Apenas se sente. Apenas amamos.
E é somente isso: simples, direto, claro, conciso. Apenas amo você.
Só isso. Nada mais.
Parece nada, não é?
E ao mesmo tempo, de tão simples e perfeito, destrói todo o meu ser
por ser uma força maravilhosamente tenebrosa.
Apenas amo você.
E queria saber como destrancar a minha casa para que seu sol brilhe
aqui dentro, dentro de minha alma, dentro de meu coração.
Ensine-me a não mais magoar você, a não mais machucar você, a não
mais temer esse amor tão imenso que me apavora toda a existência.
perdão por não ter sido a mãe que você merecia.
Ajude-me a encontrar o caminho que me leve até o seu sol.
http://www.blog-br.com/outrrodaceguinha/page2/&thisy=&thism=&thisd=