CONFIDÊNCIAS ... BIOGRÁFICAS? (70): Meu fim [conselhos velhos a um novo]

Andy Freitas publica no RdL (27/01/2009.- T1407654) um belo e triste pensamento que intitula «Meu fim». Ei-lo:

Por que a vida é assim? Um dia amor, noutro ódio. Hoje quero fantasia, amanhã o verdadeiro.

As pessoas não entendem por que morrerei jovem, mas estou cheio, de tanta maldade, nas pessoas, na tv, no mundo de forma geral.Chega!

È bem verdade que existem pessoas que me amam. Minha família, meus amigos... Mas em meio a tanta maldade tenho medo de contaminar e magoar aqueles que amo. Por isso desejo e sinto que meu fim está próximo!

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Quando dom Quixote, no fim do romance do galego Cervantes Saavedra, se sente morrer e assim lho diz ao escudeiro Sancho, este contesta (sic) chorando:

«Ay! [...] no se muera vuesa merced, señor mío, sino tome mi consejo, y viva muchos años; porque la mayor locura que puede hacer un hombre en esta vida es dejarse morir, sin más ni más, sin que nadie le mate, ni otras manos le acaben que las de la melancolía. Mire no sea perezoso, sino levántese desa cama, y vámonos al campo vestidos de pastores, como tenemos concertado; quizá tras de alguna mata hallaremos a la señora doña Dulcinea desencantada, que no haya más que ver.»

Que em português "soa" assim:

«Ai! [...] não morra vossa mercê, meu senhor, antes tome o meu conselho, e viva muitos anos; porque a maior loucura que pode fazer um homem nesta vida é deixar-se morrer, sem mais nem mais, sem que ninguém o mate, nem outras mãos o acabem que as da melancolia. Adverta, não seja preguiceiro, mas levante-se dessa cama, e vámos ao campo vestidos de pastores, como temos concertado; talvez trás de alguma mata acharemos a senhra dona Dulcineia desencantada, que não haja mais a ver.»

Em suma, caro: Não vale a pena morrer... Nem por nós, nem pelos nossos. Pelos outros tanto tem...; já sabemos que muito não contamos para eles...

Mas, vivendo, também não vale a pena viver melancólicos e tristes... Há tantos motivos para sorrir e para rir e mesmo para estrondear o ar com as mais felizes das gargalhadas... Observe que abunda muito a ridicularia. E que fazer perante ela? Caro, rir e rir e rir...

(E pensar... e imaginar... e fantasiar: Porque quem sabe se não haverá uma ou mil Dulcineias ou anjos divinos trás das matas... quaisquer, inclusivamente essas tão ordenadas dos jardins urbanos...)

E, se não lhe vale este conselho do Sancho, leia de a Ilha dos Amores, por exemplo, e tire as consequências pertinentes.

«O longo episódio da Ilha dos Amores pertence já ao plano mitológico, fantástico. É o congraçamento entre os homens e os deuses, a elevação dos navegadores à esfera da imortalidade.

»Vênus decide premiar os navegadores e, numa ilha paradisíaca, reúne as nereidas (ninfas marinhas), feridas por Cupido com suas setas, para que ardam de amor pelos portugueses. Estes, deslumbrados com o espetáculo divino, passam a perseguir as ninfas que se deixam alcançar e se entregam, entre gritinhos de prazer. É a mais clara manifestação do pan-erotismo, da idéia de que não há pecado sexual.

Oh! Que famintos beijos na floresta,

E que mimoso choro que soava!

Que afagos tão suaves, que ira honesta,

Que em risinhos alegres se tornava!

O que mais passam na manhã e na sesta,

Que Vênus com prazeres inflamava,

Melhor é exp’rimentá-lo que julgá-lo;

Mas julgue-o quem não pode exp’rimentá-lo.

(Os Lusíadas, IX, 83)»

La vita è bella! Vivamo-la felizes e procurando a felicidade dos mais...

Um forte abraço desde a Galiza! (Spain)