Dias Difíceis

Há dias que não tem jeito: serão difíceis! Sempre existem aqueles dias onde a tristeza e o descontentamento nos invade com tamanha violência que parecem nunca mais irem embora. Hoje é um desses dias pra mim. Nesse momento em que escrevo, estou de frente para um carro batido, carro esse que eu mesmo tratei de bater. Se eu estava certo ou errado? Isso pouco importa. O mal já está feito. Não houve feridos. Foi o tipo de batida onde as únicas partes afetadas são: o bolso (do meu pai), e o coração (o meu).

Acabo de ver uma cena que não posso deixar de narrar, por conta do modo como ela me fez pensar mesmo em meio a um turbilhão de pensamentos passando pela cabeça. Existe um patinho, filho de um pato e uma pata (singelos residentes do mesmo lar em que resido), que foi o protagonista da cena. Passeando por todo espaço disponível que o nosso lar oferece, lá ia ele, andando e aprendendo a viver. Num momento do passeio, o patinho virou-se para casa e veio reto em direção a ela, como quem anseia andar por outros caminhos, sentir novos ares, talvez por já estar entediado em só andar na grama verde ou na terra geralmente molhada. Ao chegar no alpendre da casa, deparou-se com um desafio: subir em um batente que era praticamente a sua altura, algo em torno de uns 15 cm. Tinha de dar um salto maior que o seu próprio tamanho. Então, ele encheu-se de coragem, e em um único salto... deu de cara com a decepção, decepção de não haver conseguido vencer aquele obstáculo. Como esse patinho se parecia comigo; eu também estava de frente para uma decepção, decepção de não ter conseguido evitar o acidente. O patinho foi procurar a mãe; eu fiquei aqui, pensando nele e na minha história.

Meu pai diz ter sentido a batida em casa no momento em que ela aconteceu, o fazendo inclusive deixar cair uma garrafa de água que estava em suas mãos. Eu só senti o prejuízo que estava causando e todos os outros dissabores que o acidente iria causar. No momento do acidente estava indo para a igreja, mas dessa reunião eu nem iria participar, estava indo no intuito de ajudar no estacionamento, cuidando dos carros que lá estivessem. Que ironia, tão preocupado em cuidar do carro dos outros, acabei me descuidando do meu.

Existem pessoas que quando passam por situações semelhantes, abandonam a fé, por não entenderem o porquê de Deus ter permitido tal coisa. Eu, sinceramente, não pensei em nada, fiquei apenas com um profundo aperto no peito. Não “espiritualizei” nada. Não chamei o diabo de causador, nem questionei a Deus pelo ocorrido. Tentei apenas resignar-me. Lembrei dos acidentes não sofridos, dos acidentes não vividos, dos acidentes em que não me envolvi. Nesse eu estou envolvido até a tampa, mas e nos outros onde eu e o carro saímos ilesos?

Às vezes não entendemos o motivo de passarmos por certas coisas, mas, definitivamente, não é preciso que nós entendamos nada, Deus sabe. Se nós soubéssemos de tudo, Deus não seria Deus, e nós não seríamos simples homens. Ainda que eu não entenda, eu sigo vivendo em fé. A mesma fé que não me trouxe explicações plausíveis para as mudanças que se sucederam, para o estado de bem viver em que me encontro, após Cristo ter me concedido vida. “Só sei que foi assim”, como diria Chico. Aceitei Jesus como Senhor e Salvador, e dessa aceitação tudo novo se fez, até o modo de encarar os “dias difíceis”. “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do SENHOR nosso Deus”. Estou com o Rei David e não abro. Eu não posso livrar-me a mim mesmo. Deus é quem me livra, se ele assim desejar, se não houver uma melhor opção. È necessário que eu sofra agora, para que depois a vida não seja de mim arrancada. Sofro agora porque não sou irresponsável, se eu fosse irresponsável, certamente não sofreria, mas também com nada aprenderia, e amanhã o pior se daria. Foi assim comigo, não é diferente com todos os outros.

Sou como o patinho aqui de casa, que vai experimentando a vida e sendo experimentado por ela. Quando a coisa aperta, vai correndo pra mãe. No meu caso, vou correndo para o único que pode me socorrer. Para aquele que tem os seus olhos fitos em mim, e que me permite ir vivendo e aprendendo, realizando um estágio nesse mundo, para que quando ele se manifestar, eu já tenha aprendido mais que o bastante.

Em Aracaju, às 23:00 no dia 14 de fevereiro 09.