AO SOM DO PIANO

CALADO ESTOU SENTADO EM MEU QUARTO, JA PASSA DE MEIA NOITE

SOZINHO DEDILHO NUM VELHO PIANO DE NOME ESTRANGEIRO,

UMA MUSICA QUE APRENDI QUANDO CRIANÇA.

E AO SOM DO PIANO, MINHA ALMA SE ABASTECE PARA UM NOVO DIA.

MEUS DEDOS JÁ CANSADOS PELA VIDA INSANA,

ERRAM AS TECLAS E BEBO MAIS UM GOLE DE UISQUE BARATO,

RECOMEÇO, DEVAGAR EM TOM BAIXO E OBSERVANDO,

SÓ TENHO AS ESTRELAS POR TESTEMUNHA DO MEU ATO.

E AO SOM DO PIANO, MINHA ALMA APROFUNDA DE OLHOS FECHADOS,

E AO FUNDO UM VIOLINO ACOMPANHA MEUS DEDOS INCERTOS,

É O CONCERTO FINAL DE UM ATO SEM PLATÉIA, SEM APLAUSO,

NA IMAGINAÇÃO DE UM POETA ANÔNIMO DA PRÓPRIA VIDA.

O VIOLINO SE CALA, MEUS DEDOS ERRAM NOVAMENTE,

A BEBIDA, O CANSAÇO ME TRAZEM INCESSANTES MEMÓRIAS PASSADAS,

AO SOM DO PIANO, VIAJO PELAS SONORAS NOTAS MUSICAIS

COMO SE FOSSE PELO UNIVERSO DA SAUDADE QUE ME FERE.

O FRIO MACHUCA MINHA CARNE PELA FRESTA DA JANELA

E A NEVE SE ACUMULA NA SOLEIRA DE MINHA JANELA ENTREABERTA

O QUE ME AQUECE É O UISQUE BARATO QUASE NO FIM

E DEDILHO MAIS ALGUMAS NOTAS DO MEU PIANO SEM VIDA

RECORDANDO OS CONCERTOS E O GLAMOUR DA ALMA QUE SE CALA

AO SOM DO PIANO...

AS LÁGRIMAS ME EMBARAÇAM AO OLHAR QUANTAS ANDAM AS HORAS

SOLITARIO ENXUGO MEU ROSTO COM AS MÃOS TRÊMULAS DA BEBIDA

E NO CANSAÇO JOGO MEU CORPO SOBRE A CAMA,

ESPERANDO QUE UM NOVO AMANHECER REVIGORE MINH'ALMA.

AO SOM DO PIANO...

O MESMO QUARTO NO SUBURBIO,

OS MESMO DEDOS HOJE SEM VIDA DE POETA,

NO MESMO CANTO A VELHA BEBIDA COMPANHEIRA,

QUADROS ANTIGOS ESPALHADOS PELA PAREDE,

ALGUNS RETRATOS DOS QUE SE FORAM SÃO TESTEMUNHAS,

DO VELHO HÁBITO DE NUNCA PERDER A ESPERANÇA,

E NUNCA DEIXAR DE VIVER E REVIVER ...SEMPRE...

AO SOM DO PIANO.