EGO

Não quero largar a plantação e fazer de conta que nada aconteceu

Não quero simplesmente pisar sobre as sementes, alheia a terra, que outrora revolvi

Não quero um jogo de faz de conta sem me dar conta de que os espinhos das rosas ainda me sangram

Não quero um sim por conveniência, mas um não, pelo o que é justo

Não quero me despir diante da sua nudez, para não me sentir cumplice de algo não tentado

Não quero aplaudir o espetáculo sem ao menos saber o script do show

Não quero o abrir da porta sem a certeza de que voltarei para fechá-la

Não quero um pequeno barco em meio a um mar bravio

Não quero muletas por compensação

Não quero um choro depois do riso

Não quero mais, não quero mais

Mas quero acreditar no gargalhar da felicidade

Quero ouvir com nitidez o tilintar de nossas taças

Quero meu rosto nítido em nossas alianças

Quero voltar as gangorras da vida

Quero me embriagar no vinho de nossas almas

Embolar em meus desejos

Amparando-me em sinfonia

Extasiada,

Perdida

Perplexa

Absorta em dar-me as mãos

Num encontro comigo mesma...