Andaimes da Construção

Por: Egídio Garcia Coelho

http://valeencantado.eco.br/

Andaimes da Construção

Estamos acostumados a encontrar por entre os tantos arranha céus que já existem, alguns tapumes de obras acobertando o nascimento/construção de uma nova obra (edifício), onde quase sempre, o arquiteto procura fazer com que, ao ficar pronta possa ostentá-la com superioridade em beleza e praticidade entre as demais.

Quero fazer desse parágrafo uma alegoria comparando com nossa vida até atingirmos a maturidade espiritual, entre quarenta e quarenta e cinco anos. (Em AT-Análise Transacional, por ciclos de 7 anos, chega-se na maturidade espiritual entre 49 e 56 anos, se não me falha a memória).

Dado a arcaica pedagogia que ainda nos submetem, nossos talentos, quase sempre, são castrados pela equivalência de notas que sofremos, principalmente nos primeiros anos de estudos. Considerando que tantos semelhantes, por falta de interesse ou outras dificuldades, estão fora da escola, reconhecemos mesmo assim, ser esses estudos privilegio de poucos.

Crescemos aprendendo a nos adaptar gradativamente a uma luta constante de disputa por espaço e poder tão forte que, já nos nossos primeiros passos, quando temos acesso a algum objeto, conseguindo segurá-lo nas mãos, nos sentimos donos, reagindo defensivamente se alguém ameaça tirá-lo de nossas mãos.

Sabemos que nossos egos podem vir desenvolvidos geneticamente e também por instinto pela influência de reinos ou existências anteriores, fazendo de nossa mente uma escrava fiel desses, durante nossa existência.

Para fazer sentido o texto, devemos considerar aqui os egos, como sendo os Sete Pecados Capitais, fugindo da nossa psicologia convencional. Costumo usar para representá-los a sigla SALIGIP, sendo eles: Soberba, Avareza, Luxúria, Ira, Gula, Inveja e a Preguiça.

Aprendemos com nossos esforços, buscando nos estudos, desde o ensino fundamental até a formação acadêmica ou mesmo somente na escola da vida, que para obter sucesso, precisamos adquirir habilidades para: Liderar, Economizar, Usufruir de Prazer, Agir, Ser Independente, Ter Ambição Sadia, Descansar, etc., como básico entre tantas outras necessidades ( A teoria de Maslow).

Ilustrando com nossa alegoria, na construção da nossa obra, ou seja, nossa existência na escola da vida, orientando nossos descendentes ou quem quer que venha a precisar da nossa interferência no seu desenvolvimento, acabamos por ter que fazer uso dos nossos egos como andaimes indispensáveis durante a execução do projeto que nem sempre é por nós elaborado.

Vejamos:

A Soberba.

Para desenvolvermos uma liderança, diante da limitação de conhecimento e entendimento dos colaboradores ou alunos, precisamos em algumas circunstâncias, ostentar uma certa superioridade (soberba) impondo autoridade, mesmo que sutil e coerente.

A Avareza.

Sem adquirir o hábito de economizar, ou seja, guardar um pouco do que podemos com sacrifício ou mesmo sobras, jamais seriamos capazes de acumular um capital para vir a iniciar um projeto mais significativo ou mesmo a aquisição de um bem qualquer. Para isso, teremos que ignorar necessidades básicas de muitos semelhantes, mesmo sabendo que alguns sequer dispõem do mínimo necessário para a alimentação.

A Luxúria.

Vivemos em constante luta e numa acirrada competitividade que, de alguma forma, precisamos compensar para sentirmos o sabor da vida. Então buscamos algo que nos traga “prazer” fora do trabalho, preenchendo assim, algumas horas no deleite de ocupações prazerosas que acabam por carregar nossas baterias.

A Ira.

Ela é nossa propulsora da ação. Para que possamos produzir e enfrentar desafios, precisamos sentir dentro de nós um impulso capaz de vencer qualquer obstáculo que possa aparecer no caminho rumo nosso ao objetivo. Somente conseguimos fazer força extra ou fixar determinação ferrenha, fazendo uso dela que, quando equilibrada, pode ser identificada como raiva que, somada com a alegria, nos torna extrovertidos e produtivos.

A Gula.

Diante de tantas adversidades em nossa constante luta e em algumas circunstâncias, por ignorância, acabamos nos proporcionando desgastes que chegam a comprometer nosso organismo, provocando às vezes, falta de apetite. É nessas horas que usamos os olhos e o olfato para poder despertar alguma atração por comida através da gula, garantindo assim repor energias para darmos continuidade na jornada.

A Inveja.

A inveja, se bem administrada nos leva a uma ambição sadia de querer possuir alguma coisa ou conquistar algo, fazendo de outros um referencial. Infelizmente é bem conhecida na utilização em desequilíbrio, chegando a graves consequências em ambiente familiar, de trabalho, nas amizades, etc.

A Preguiça.

É tão grande nossa necessidade de vencer na vida que, algumas vezes, diante de um planejamento estratégico, se houver algum atraso no cronograma, ou mesmo diante de uma contrariedade qualquer, somos capazes de ultrapassar nossos limites de reservas, podendo provocar sérios danos à saúde. Então quando necessário, nossa mente pode nos proteger, permitindo uma dosagem significativa de indisposição esporádica para que, em determinada hora ou dia, se possa optar por uma boa parada radical, evitando às vezes, crises das mais variadas. Exemplo: Estar a beira de um enfarto ou AVC, sendo a tal “parada radical”, uma divina providência para que o organismo se regenere!

Falamos de forma bem sintetizada, sobre cada um dos Sete Pecados Capitais como ferramente úteis, sem entrar em detalhes, deixando assim, margem para muitas argumentações contrárias. Sabemos da necessidade do equilíbrio, tanto que nossa experiência de vida mostra que, acabamos por extrapolar no uso de cada um deles, em especial e até de forma inconsciente, a luxúria (prazer), através do sexo. A mídia tem esse alvo como principal foco, por saberem nossas lideranças mundiais, qual o ponto fraco da humanidade.

Poucas técnicas psicológicas e nenhuma instituição religiosa mais popular, principalmente no ocidente, desenvolve um eficiente mecanismo de defesa para que possamos vencer tais inimigos após se instalarem comodamente, já que por um bom tempo foram também aliados na construção em nossa obra.

Para entendermos melhor minha alegoria, vamos considerar que até nossos 40/45 anos, passamos construindo nossa obra que se refere ao entendimento e compreensão, ou seja, a nossa faculdade da vida.

Normalmente passamos por sérias turbulências nessa faixa etária. O que pode ter inspirado ao autor no Velho Testamento a usar quarenta anos para descrever o povo no deserto a busca/procura da terra prometida.

Considero a terra prometida nossa maturidade espiritual, onde podemos parar para refletir e perceber a importância dos ensinamentos de nossos professores, a sabedoria dos idosos, mesmo sem nenhuma formação acadêmica, o quanto nossos avós representam pra nós, o verdadeiro sentido do amor e em especial o da mãe. Também a amizade sincera do pai, salvo algumas exceções e a forma com que se começa a encarar os projetos sem expectativas ambiciosas e ansiedade, tendo mais confiança em Deus e reconhecendo com mais profundidade a complexidade da vida, começando a se sentir um Templo de uma Divindade que alimenta uma vida num corpo que se movimenta pela simples intenção e que possui raciocínio.

Nossa nova etapa depois dessa faixa etária, consiste em iniciar a retirada dos “andaimes” dando gradativamente o acabamento na obra, onde começamos a realizar com mais maturidade, sendo para muitos um verdadeiro início de tudo que, até então parecia impossível. Porém, a metamorfose é sentida na grande maioria de forma até assustadora, desafiando os limites até então conhecidos. Tanto que alguns poucos, sequer conseguem ultrapassar tal barreira.

Segundo nosso conceituado Teólogo Leonardo Boff, algo semelhante acontece com a águia que ao atingir 40 anos, está com o bico quase inutilizado e muito curvo, suas unhas também comprometidas a ponto de ter que encarar uma verdadeira flagelação, quando numa espécie de quarentena (vou usar como expressão o que me parece ser 180 dias), ela bate seu bico contra uma pedra até provocar sua queda. Com um novo bico que logo cresce, pode então extrair a força suas próprias unhas envelhecidas e inúteis, dando assim condições para uma nova etapa de mais uns 30 anos de vida nas alturas.

Nem todas são capazes de obedecer aos seus instintos, tendo-se conhecimento de algumas poucas que resolvem dar por encerrada sua jornada na primeira etapa da vida.

Segunda-feira 04 de julho de 2005.

http://valeencantado.eco.br/