QUANDO DEUS SE AGACHOU

Já bem no início do livro sagrado, há uma estrondosa revelação. Ali Deus se identifica como o idealizador e o executor do maior de todos os projetos já vistos. Ele antevia que seres inteligentes necessitariam de uma resposta conclusiva para a origem do universo e de suas próprias vidas. Ninguém em sã consciência deixa passar a vida sem indagar “como foi que tudo isso veio a existir?”.

Mesmo assim, até as mentes mais privilegiadas têm dificuldade em absorver totalmente o primeiro versículo da bíblia: “No princípio Deus criou os céus e a terra.” A magnitude da obra indica a magnitude da mente que a projetou. No entanto, é difícil até mesmo para os evoluídos humanos do terceiro milênio captarem a plenitude da grandeza do Deus Criador.

Somos inventivos, habilidosos construtores, artistas com aguçado senso estético, cientistas curiosos e investigativos, criadores da pujante tecnologia de ponta. Mas ainda nenhum humano foi capaz de criar sequer uma única molécula de água. Conhecemos bem sua fórmula química, seu esquema tridimensional. Na natureza, temos à nossa disposição abundância dos dois únicos elementos necessários para tal façanha. Porém, apesar de toda a ciência e tecnologia que dominamos, não conseguimos trazer à existência uma nova molécula deste precioso líquido.

Para Deus, no entanto, parece ter sido extremamente fácil juntar aos bilhões as duplas de átomos de hidrogênio com um de oxigênio para cobrir os oceanos, rios e lagos do nosso minúsculo planeta.

Você consegue imaginar a grandeza do nosso Criador? A glória de sua majestade? A dimensão do seu poder? A amplidão da sua soberania?

Outro questionamento brota com toda força na mente humana. Seria possível criaturas como nós interagirem com o Criador? Algum tipo de relacionamento pessoal? Comunicação efetiva e afetiva? Parece tão necessário! Até vital! Não seria este o principal sentido da existência humana?

Mas como? Como alcançar ser tão supremo? Como seria isso possível? Somos menos do que formigas para observadores situados no satélite natural mais próximo de nós.

Lembraria Deus que existimos?

Poderia ele dispor de algum tempo para dar-nos atenção, tendo que administrar seus bilhões de galáxias e riquezas universais?

Teria ele interesse em ouvir nossas questões pequenas?

Suportaria ele presenciar a bagunça que fizemos com o globo que ele suspendeu no vácuo?

É o livro sagrado que traz novamente a revelação contundente e esclarecedora para tantas perguntas.

Sim.

Sim.

Sim.

Sim.

Quem ler o texto sagrado descobrirá todos os “sim” que Deus oferta a cada um de nós. Descobrirá que Deus é o Pai nosso que está nos céus. Descobrirá que o tamanho dele não é empecilho para lidar com seus pequeninos filhos. Deus é capaz de inclinar seus ouvidos para escutar nossas dúvidas mais cabeludas, nosso choro, nossos clamores. Como qualquer pai já fez diante de seus filhinhos, Deus se agacha para estar mais perto de nós, mais acessível, pronto para abraçar e acarinhar.

Nenhum pai chegou a se agachar tanto diante de suas crianças quanto o Pai Celestial ao encolher-se até a nossa estatura e assumir a forma de um homem mortal, sujeito a dores, cansaço e humilhações.

A mesma força que move os músculos de um pai ao se agachar na presença de pequenas e frágeis criaturas, foi a força que moveu o próprio Deus a se abaixar até o nosso nível. O que obrigou Jesus a tal gesto foi seu infindável amor. Tal qual seu poder, é sem limites o seu amor. Não há nada que qualquer humano venha a cometer, que seja capaz de extinguir, nem mesmo diminuir o amor incondicional de Deus. Ele provou isso.

Quando suas criaturas tiveram a ousadia de cuspir em sua face, esbofeteá-la, e até mesmo de cravar uma coroa de espinhos em sua cabeça ou pregos em suas mãos e de pendurá-lo para morrer na cruz, foi seu amor que lhe deu forças para dizer: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que estão fazendo.” Alguns dele debocharam e, vendo sua agonia instantes antes da morte, o desafiaram: “Desça da cruz, e então creremos que és Filho de Deus.”

Por que ele não aproveitou aquele instante para mostrar todo seu poder? Por que não enviou fogo do céu para aniquilar seus opositores? Por que preferiu assumir toda a fragilidade humana e experimentar a mais apavorante perda (da vida)? Foi porque ele quis se agachar para se solidarizar com todo tipo de sofrimento humano. Aquele que é a fonte da vida decidiu passar pela dor da morte para se tornar também a fonte única de ressurreição.

Ele não retribui de acordo com nossos méritos. Sua fórmula de retribuição se fundamenta em algo extremamente superior: sua liberdade para amar mesmo quem não seja digno de tal amor. Afinal, só um amor deste tamanho é capaz de converter corações endurecidos em corações gratos e submissos voluntariamente. Tudo isso é e será a mais pura realidade para todo aquele que confiar no amor salvador de Jesus.

Dedico estas reflexões à minha filha que, no último domingo, aos catorze anos, deu seu testemunho público de fé, gratidão e submissão ao Soberano Deus.