Novos ditos

L. J.: o problema de "provar" ao outro que tal coisa existe ou que não existe é impossível, uma vez que, para mim, a palavra "prova" diz respeito ao ato de provar o sabor ou o dissabor de certas coisas, o que não podemos fazer pelo outro. Se lhe digo que tal comida é boa e você me pede: "prove", a única forma de fazer você avaliar o sabor da referida comida é prová-la você mesmo.

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Creio que os "seres especiais" são reconhecidos não por suas capacidades de sentir, pensar e imaginar, mas pela qualidade daquilo que sentem, pensam e imaginam – o que também diferencia não apenas os poetas dos não poetas, mas os humanos dos desumanos.

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Caro J. C.: meu filho mais novo, Rafael, de 14 anos, me perguntou se poderia usar brincos. Disse-lhe que sim, desde que não procurasse me convencer a fazer o mesmo. O corte de cabelo e o penteado dele e dos amigos dele são os mesmos do de Justin Bieber - a que repudio como "coisa de retardado" expressando duplo preconceito: contra os retardados e contra as novas formas de ser da juventude, o que não fez meu pai comigo na época em que eu adorava meu cabelo comprido, minha calça jeans e meus tênis rasgados. Minhas experiências com educação me convenceram de que tem razão aquela metafórica observação oriental sobre a necessária flexibilidade do bambu para agüentar os vendavais das tempestades, ao contrário da árvore inflexível que pode se partir sob a força dos ventos. A juventude e seus excessos passam e a ignorância também, a despeito de que ainda possa persistir durante muito tempo em algumas pessoas e pouquíssimas considerem a importância, a necessidade e a possibilidade de se alcançar uma genuína Sabedoria e, a partir dela, a verdadeira Educação.

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Já que adoramos fazer "tudo" errado, o bom mesmo é não pisar na Igreja.

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A rigor, não existem cristãos genuínos: apenas simpatizantes do cristianismo, como eu, sendo pouquíssimos mais ou menos dotados da vocação para a realização da meta suprema do projeto da feitura dos santos dos últimos dias à administração futura do Reino que deverá (ou deveria) se estabelecer "assim na Terra como no céu".

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O problema é que sentir "o amor no seu mais pleno sentido" automaticamente neutralizar-nos-á o ciúme, tendo em vista que, segundo todos os santos, sentir amor assim é sentir amor por todos, embora necessariamente não o desejo (sexual) por todos.

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Caro Braulio Tavares: você escreveu: "Um artista só é indispensável depois que é conhecido. Se nunca ouvirmos falar nele (ou mesmo se ouvimos falar, mas de sua obra não escutamos um pio), nossa vida corre mansa do mesmo jeito". Creio que se você tivesse posto um ponto depois de "corre mansa" a frase diria mais justamente a verdade, uma vez que, ao conhecermos certos artistas, nossas vidas não apenas deixam de correrem mansas como, muitas vezes, mudam o rumo.

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Melhor dizendo: segundo nosso querido guru, o Psicoterapeuta Holísitoco Tomaz Aldano de França, os três pós mais venenosos do mundo são o açúcar, a farinha de trigo refinada e a cocaína – embora, também segundo o apóstolo Paulo, "tudo" possa ser consumido com moderação. O problema é saber se somos capazes de “experimentar tudo e reter o que é bom”, uma vez que será preciso experimentar pra saber se poderemos conter impulsos quando vícios se estabelecerem. Em termos de consumos, os açúcares e o sal já fizeram grandes estragos na maioria da população do mundo – embora ainda haja muito a fazerem – e o problema agora é conviver com os estragos que têm causado a muitos o uso imoderado da cocaína.