Maria, que acreditava no amor...

" ... em cada experiência se aprende uma lição

Eu já sofri por amar assim

Me dediquei mas foi tudo em vão

Pra que se lamentar

Se em sua vida pode encontrar

Quem te ame com toda força e ardor

Pois só assim sucumbirá a dor

Mas vai ter que lutar

Não se abater

Só se entregar

A quem te merecer

Não estou dando nem vendendo

Como o ditado diz

O meu conselho é pra te ver feliz"

(Adilson Bispo)

Maria. Maria não vai com as outras, mas Maria já foi com outros. Com outros que ela não amou, com outros que não a amaram.

Maria.

Maria acreditava em amor. Maria acreditava em paixão. Maria acreditava.

Ela vivia entre a letra e o sonho. Entre a realidade e umas estrelas. Entre a força e o poder. Maria vivia de magia. Tecia um cobertor todo feito de amor e cores. Maria desenhava borboletas. Tinha borboletas na barriga.

Vivia de luas e estrelas, de amores e paixões, de astros e astronomias. Vivia de passagens, viagens, de sonhos e canções. Maria vivia sonhos de amor.

Era tão tola, Maria, era tão menina e tão boba que até os gatos de rua se riam dela. Maria era motivo de riso entre a plebe e entre a casta, porque Maria, ah, Maria, Maria acreditava. Maria achava que o amor venceria, que amor era coisa de verdade. Que amor era o que movia os moinhos. Nunca pensou em ventos. Maria era tola.

Maria aprendeu essas coisas com seu pai. Um violeiro sonhador, que escrevia versos em folhas de café, que ia para a roça mas não queria trabalhar, queria era cantar, sonhar e fazer versos. Ensinou isso a ela, a fazer versos. Falou sobre o amor e Papai Noel e Coelho da Páscoa. Ele ensinou coisas que não existem.

Maria aprendeu a sonhar junto com as letras. Aprendeu primeiro a escrever sonhos, depois a escrever letras. Maria desenhou estrelas e luas antes de aprender a falar. Viajou com estrelas cadentes antes de aprender a andar. Amou todos os homens do mundo, antes de aprender a soletrar. Maria fez escola nas ilusões. Aprendeu a tecer sonhos com as tarântulas dos folclores. Aprendeu a nadar com botos cor de rosa e se achou sereia, aprendeu o que jamais devia ser aprendido, Maria aprendeu que amor existe.

Ela não queria a clarividência, pois essa mostrava o fundo do mar antes do mergulho. Não deixou seus pés assentados na terra, pois isso a impediria de voar. Preferiu a credulidade infantil, quis a ignorância e a inépcia. Maria quis o engano. Ter razão trazia dor e a lucidez não compensa. Maria preferiu o azul, mas o negro era a cor dos dias. Fez escolhas erradas e chorou. Maria. Pobre Maria. Não há nenhum amor para Maria. Não há amor algum em lugar nenhum.