Se Deus existisse...

Em quantas mentes lateja insistentemente a dúvida sobre a existência de um ser Todo-Poderoso.

Como entender a existência de alguém que sempre existiu e sempre existirá, que detém todo o conhecimento e todo o poder?

Onde residiria aquele que arquitetou e construiu todas as galáxias?

Imagine se fosse possível comunicar-se com Deus e descobrir seus pensamentos!

A reflexão abstrata pode gerar uma imagem mais tangível.

Se Deus existisse, imagino que Ele jamais abandonaria as obras criadas por suas mãos.

Provavelmente Ele transmitiria de forma clara – talvez até de forma escrita - os seus propósitos para com a vida humana.

Suponho que Ele até resolveria fazer-nos uma visita para ver como as coisas andam por aqui.

Entre nós, Ele poderia manifestar de modo claro seus poderes divinos e sua sabedoria inigualável.

Nada seria tão interessante quanto se Deus vivesse por uns tempos na nossa pele a realidade muitas vezes cruel da existência humana. Que incrível seria se Deus se tornasse como um de nós para que pudéssemos nos tornar mais parecidos com Ele!

Muitos não resistiriam e certamente lhe suplicariam alívio para suas dores, cura para suas enfermidades e quem sabe até a dádiva de ter de volta um parente vitimado pela morte.

Com apenas um toque ou uma palavra, Ele poderia deixar arregalados os cegos, ao tirar-lhes as vendas que os impediam de conhecer um universo de cores e formas. Ou faria saltitarem de emoção aqueles que nunca puderam caminhar pela vida por meio de suas próprias pernas.

Acima de tudo, penso que Deus viria até aqui para entregar-nos a chave. Há quanto tempo se espera pela preciosa chave capaz de nos libertar do pior de todos os males, da carga insuportável que rebaixa o olhar antes confiante e digno. Nenhum esforço humano tem alcançado a tal chave que poderia quebrar as algemas impostas pela malévola culpa. Esta vilã tem levado muitos à depressão, ao tormento, aos vícios e até ao suicídio.

Só o Todo-Poderoso seria capaz de derrubar do seu trono tirano a mordaz perseguidora da consciência humana. Acende em mim a curiosidade de saber qual seria a estratégia fulminante que Deus adotaria para aplicar seu golpe mortal.

Seria difícil acreditar, se me dissessem que os humanos asseguraram à vilã a coroa de ouro e ao herói a coroa de espinhos; que foram audazes a ponto de cuspir e bater na face dócil do maior apaixonado pela humanidade; que, sob os auspícios do respeitável direito romano, impuseram ao doador de toda a vida o veredito de ser expulso da face da terra embarcado numa cruel cruz.

Ou seria esta justamente a estratégia do maior de todos os justos? Qual juiz justo absolveria os culpados e condenaria os inocentes? Mas como ser justo, quando o juiz tem amor paternal para com aqueles que precisa condenar? Qual o pai que condenaria seus próprios rebentos?

Com toda sua sabedoria e senso de justiça, com todo o seu amor, Deus livremente aceitaria morrer no lugar que caberia aos seus amados filhos! Será que algum poeta já criou uma ficção similar? Será que seríamos capazes de compreender e aceitar tal ato encharcado de misericórdia, compaixão e amor paterno?

Ao derrotar a culpa por meio de Sua própria morte, o divino ser nos surpreenderia duplamente. Nem a morte poderia roubar-lhe a divindade. Cumprida a sentença justa no papel de substituto daqueles que o condenaram injustamente, Deus certamente romperia as portas sólidas do túmulo e irromperia com resplendor para revelar o que jamais um humano visualizou: a concretude da ressurreição.

Em sua plenitude de bondade, imagino que esse Deus presentearia seus algozes com a chance do arrependimento e consequente perdão e lhes ofereceria o passaporte da ressurreição para viverem eternamente em seu reino iluminado e cheio de perfeição!

E se Deus não existisse...