" A RAZÃO DA CEBOLA"

Nassib era um homem pobre, de espírito e materialmente. Paquistanês nato, morador de um bairro pobre de Cabul. Tinha uma esposa dedicada, caprichosa e amorosa, não possuiam filhos. Nassib também a amava muito, era-lhe o único bem que possuia. Caprichos da vida, diriam os sábios. Certa ocasião, escavando o pátio de sua casa, triste porque a lavoura não lhe dava os resultados que necessitava, suado e cabisbaixo, Nassib continuava escavando para encontrar água. Em meio à escavação, o homem pobre de Cabul encontrou um vaso lindo, todo em ouro. Ouro maciço. Valia uma fortuna. Nassib interessou-se pelo vaso e lá pelas tantas descobriu que o vaso era sagrado e, quem chorasse sobre o vaso, suas lágrimas se transformariam em pérolas, as mais puras pérolas. Mas Nassib, um homem já maltratado pela vida, há muito não chorava mais, sem choro, não há lágrimas, sem lágrimas não há pérolas, pensava ele. Tinha que fazer alguma coisa para chorar, criar um impacto tão grande, que o fizesse derramar lágrimas. Era o jeito de ficar rico, comentava ele consigo mesmo. Depois de muito pensar, não havendo outra saída, resolveu matar sua própria esposa, aquela dedicada e amorosa, que ele mesmo dizia ser seu bem mais precioso. Até que um belo dia tomou coragem e fez o pior, matou Kylla, sua mulher. Sobraram motivos para o choro, chorou tanto que conseguiu uma montanha de pérolas. Mas, sentia saudade de Kylla, e, quanto mais chorava, mas pérolas tinha. Era o círculo vicioso. Chorava ele sentado sobre a montanha de´pérolas, quando um sábio que passava em frente sua casa, vendo aquele quadro tão triste, perguntou: Porque choras, sendo você um homem rico, não consegues dar conta de sua fortuna ? - Indagou - Nassib olhou-o de cima a baixo e respondeu-lhe, Eu matei minha mulher, disse, e contou ao sábio tudo que sucedera naqueles últimos dias em sua vida. O sábio, do alto de sua sabedoria, admirado e pasmado, perguntou-lhe, se precisavas chorar, ao invés de matar sua própria esposa, porque simplesmente não comeu uma cebola ???

René Cambraia
Enviado por René Cambraia em 15/03/2007
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