Abraçando o anjo da morte
Por:Dom Miguel Ruiz


A forma final de obter a liberdade pessoal é preparar a nós mesmo para a iniciação dos mortos, aceitando a própria morte como professora.

O que o anjo da morte pode nos ensinar é como viver de verdade.
Tornamos-nos conscientes de que podemos morrer a qualquer instante e só temos o presente para viver.

A verdade é que não sabemos se vamos morrer amanhã. Quem sabe? Temos a idéia de que possuímos ainda muitos anos no futuro. Teremos?

Se formos ao hospital e o médico nos disser que temos uma semana de vida, o que faremos nesses sete dias?

Como já dissemos antes, temos duas escolhas. Uma é de sofrer porque estamos morrendo. Dizemos a todos: “Pobre de mim, vou morrer”, e realmente criamos um grande drama. A outra escolha é usar cada instante para ser feliz, fazendo o que realmente gostamos de fazer.

Se tivermos apenas uma semana para viver, vamos aproveitar a vida. Vamos ficar vivos podendo dizer: “Serei eu mesmo. Não pretendo mais dirigir minha vida tentando agradar aos outros. Não vou mais ficar com medo do que eles possam pensar de mim.
O que me importa o que os outros pensam do fato que morrerei em uma semana? Serei eu mesmo”.

O anjo da morte é capaz de nos ensinar a viver todos os dias como se fosse o último dia de nossas vidas, como se não existisse o amanhã.

Podemos começar cada dia dizendo: “Estou acordado, vejo o sol. Entregarei minha gratidão ao sol, a tudo e a todos, porque ainda estou vivo. Mais um dia para mim.”

Essa é a forma como vejo a vida, e foi isso o que o anjo da morte me ensinou – ser completamente aberto para saber que não existe nada a temer.

Claro, trato as pessoas eu amo com amor, porque esse pode ser o último dia em que terei a chance de dizer a elas o quanto às amo. Não sei se vou vê-las outra vez, por isso não quero brigar com elas.

E se eu tivesse uma grande discussão com você, lhe despejasse todo o veneno emocional que tenho, e você morresse amanhã? Opa! Oh, meu Deus, o juiz (*) iria me pegar de jeito, e eu iria sentir-me culpado por tudo não ter dito quando amo você.

O amor que faz feliz é o amor que posso compartilhar com você. Por que eu precisaria negar que amo você? Não é importante que você retribua esse amor. Posso morrer amanhã; você pode morrer amanhã. O que me torna feliz agora é deixá-lo saber quanto amo você.

Vivendo dessa forma, você se prepara para a iniciação da morte. O que acontecerá nesta iniciação é que o velho sonho que você abriga em sua mente vai sumir para sempre.
Sim, terá lembranças dos parasitas: Juiz, da vitima e das coisas em que costumava acreditar, mas eles estarão mortos.(*)
É isso que vai morrer durante a iniciação: os parasitas(*).

Não é fácil partir para essa iniciação, porque o juiz e a vitima lutarão com todas suas forças.

Eles não querem morrer. Sentimos que corremos o risco de sucumbir e ficamos com medo dessa morte.

Quando vivemos o sonho do planeta, é como se estivéssemos mortos. Quem quer sobreviver à iniciação recebe um presente maravilhoso: a ressurreição. Renascer é levantar-se dos mortos, estar vivo, ser nós mesmos outra vez. É ser como uma criança, selvagem e livre, mas com uma diferença: temos a liberdade com sabedoria em lugar de inocência.

Somos capazes de quebrar nossa domesticação de nos tornar livres outra vez e de curar nossa mente. Rendemo-nos ao anjo da morte, sabendo que os parasitas irão morrer e nós sobreviveremos com uma mente sadia e raciocínio perfeito.
Então somos livres para usar nossa própria mente e dirigir nossa vida.

Por isso, na forma tolteca de viver, o anjo da morte nos ensina.
Ele vem até nós e diz: “Você viu que tudo o que existe aqui é meu, não é seu. Sua casa, sua esposa, seus filhos, seu carro, sua carreira, seu dinheiro – tudo é meu. Posso tirar quando eu quiser, mas por enquanto pode ir usando”.

Se nos rendermos ao nosso anjo da morte, seremos eternamente felizes. Por quê? Porque ele leva embora o passado, para que sua vida possa continuar. De tudo o que passa, ele continua tirando a parte que esta morta para que possamos viver o presente.

Os parasitas querem que continuemos a carregar o passado conosco, e isso torna muito difícil o ato de estar vivo. Quando tentamos viver no passado, como podemos aproveitar o presente? Quando sonhamos com o futuro, por que precisamos carregar o fardo do passado? Quando iremos aprender a viver no presente? Isso é o que ensina o anjo da morte.

*Comparação de Juiz, a vitima e o sistema de crenças a um parasita que invade a mente humana. Do ponto de vista tolteca, todos os seres humanos domesticados são doentes, porque existe um parasita que controla a mente e o cérebro. Parasita que é alimentado pelas emoções negativas produzidas pelo medo.”