TÁ CALOR? VAI PLANTAR. QUEM SABE ALIVIA O CLIMA PARA SEUS FILHOS. OU NETOS.

Favelas. Onde antes era mato, mata, lagoa.

Unidades coladinhas, sem espaço para uma flor.

Estradas, asfalto, concreto.

Prédios pululam, encobrindo o horizonte.

Tudo é pedra, asfalto, concreto.

Os jardins deram lugar ao piso cerâmico.

É preciso guardar os carros das famílias: dois, três, quatro veículos.

Quanto puderem ter.

Jardim dá trabalho.

Pomar dá trabalho.

Gramado dá trabalho.

Mais fácil mangueira e vassoura, que deixam tudo brilhando. Ou uma wap.

Plástica criação humana, sem espaço para o natural.

Não há lembrança dos piqueniques às margens do Tietê e dos concursos de canoagem.

Claro: Tietê é, hoje, esgoto, recebedor de dejetos, a emanar eflúvios malcheirosos.

Inverno de rachar, verão de esturricar, chegamos ao deserto.

Deserto de clima e de mentes que procuraram o caminho mais fácil e menos trabalhoso para o sucesso, apagando as marcas da natureza.

Mas a natureza vive e pulsa e reclama.

Tudo é equilíbrio.

Se construímos nosso forno (e nossa geladeira de inverno), que vivamos nele.

Quem sabe, pela ação de cada um, quebrando um cimentadinho aqui, um piso acolá, a calçada adiante, poderemos inverter a equação e salvaguardar um futuro mais agradável para nossos filhos ou netos.

Enquanto isso, tentamos comprar novos aparelhos de ar condicionado e ventiladores. Nas lojas, nem completamos a pergunta, a resposta é invariável: "Não há mais no estoque."

O ar, seco; a chuva, falta, e as nuvens flutuam margeando a imensa massa de ar quente, impenetrável.

Maria da Gloria Perez Delgado Sanches