Três estórias e uma Páscoa

Baseado em Êxodo 12.

Meu nome é Quirenate, tenho quinze anos, sou israelita e tá difícil viver aqui em Gosén.

Pê da vida por tanto tempo sofrendo com uma opressão que nem é culpa minha, desde pequena vendo o meu pai, meus tios e até o meu avô tomando lapa nas costas pra carregarem blocos das casas daqueles governadores idiotas de Faraó.

Minha mãe sempre pediu pra gente agradecer a Jeová, pois ele nos deu essa terra através do nosso antepassado José, que sem ele morreríamos e fome e blá blá blá, sempre escuto essa história, a todo o momento, mas parece que foi castigo do próprio Jeová, eu nem queria estar aqui, de verdade, queria nem existir.

E porque que a gente não se junta, fazemos um motim e protestamos? Poxa, a gente é maioria aqui praticamente, se quiséssemos já teríamos acabado com todo esse povo aí.

O interessante é que tem um cara maluco chamado Moisés que tá batendo de frente com Faraó a todo o momento, faz algumas coisas que na qual fala que é Jeová nos libertando, e pra piorar ele pediu pra gente deixar de comer o pãozinho do café-da-manhã e comer esse pão sem graça, com essa erva nojenta, eca!

Enfim, já é noite, matamos o nosso único cordeiro pra comê-lo junto com as outras comidas, estava até gostando do carneirinho, tão bonitinho, uma pena. Meu avô pediu pra tirar o sangue dele e espirrar por cima das portas, pois disseram que a morte vai passar aqui, vai ver que a gente é israelita e vai nos deixar viver. Que besteira! Mas por gostar e respeitar a minha família vou ficar quieta, comer e depois dormir, vamos ver se algo vai mudar.

Baseado em Mateus 27.

Meu nome é Manem, tenho 62 anos, sou samaritano e moro perto de Jerusalém, terra daqueles judeus hipócritas, bando de sem noção!

Me lembro quando ainda era jovem e ajudava o meu pai com o comércio e um dia ele precisou sair, fiquei sozinho tomando conta da tenda junto com meu irmão mais novo, que estava um pouco doente na época. Nesse dia veio alguns judeus perguntando pelo meu pai e quando ia responder eles simplesmente quebraram as nossas coisas e ainda bateram em nós, quebraram o meu braço e saíram rindo nos xingando.

Eu só conseguia chorar ao lado do meu irmão, que tinha tomado um soco na cara e uns chutes na barriga, nunca tive tanta dó dele. Eu jurei que nunca iria cruzar com um judeu novamente.

E foi assim até que nesses dias atrás esse meu irmão, que era leproso porém não era mais, vivia dizendo que um judeu chamado Jesus o tinha curado e que ele foi o único que voltou dos 10 que eram doentes para o agradecer. Disse que passara a tarde com esse Jesus e ele falou de Deus, das pessoas, que sua vida era breve nesta terra e que iria morrer para salvar a todos, eu particularmente nunca acreditei nesta história besta.

Interessante que hoje ele chegando do trabalho todo afobado, nem tomou banho, só passou em casa pra pegar a sua capa e ir para Jerusalém dizendo que Jesus fora condenado pelos seus coterrâneos e que estava carregando uma cruz indo direto para o Caveira. Será que ele se revelou um criminoso e estava pagando pelo preço? Pois bem, um judeu a menos na terra não é tão ruim assim, só sei que esse cara viajava demais na maionese.

Bem, já são 1h30 da tarde, vou descansar um pouco, vamos ver se depois de eu acordar algo vai mudar, o que duvido muito.

Nos dias de hoje.

Meu nome é Luciano, tenho 23 anos, sou carioca e sou um homem de sorte!

Estou viajando com o meu sócio para apresentarmos o nosso projeto de lava-rápido econômico aqui em Santiago, pois ganhamos um investimento pesado após sermos selecionados no Rio como uma startup inovadora em soluções tecnológicas e ambientais, claro, sempre fomos bom em tudo, desde quando a gente era do colegial, quando nos conhecemos.

Não vejo a hora de ir para outros lugares e apresentar o nosso projeto, sempre tive essa vontade de ser esse cidadão do mundo e viajar adoidado, mostrando pra esses favelados do Borel bolsistas da facu o quanto as pessoas reclamam por besteira, só vivem dizendo que nunca tem oportunidade, que só é a gente, chamando-nos de “playba” que tem mais facilidade. Pode até ser, mas nem aí, estou aqui e eles lá.

Sempre fui um cara de sair e beber com as amizades, tenho fama de “pegador”, de todo o jeito, de tirar onda com os outros mesmo, não me culpo de ter um pai que era bom de grana e que sempre me bancou, mas andei exagerando um pouco. Teve um dia que saindo bêbado da balada bati o carro e atropelei uma criança, não foi nada grave ainda bem, queriam me processar e tudo, mas o nosso bom e velho advogado sempre nos tirou a gente dessas lisas.

Hoje é quinta, depois de darmos um passeio básico pela cidade, estamos montando a nossa apresentação que a gente vai fazer agora segunda-feira para uma aceleradora de empresas na Universidade Católica do Chile, como é a primeira Páscoa fora de casa vou é comemorar comendo chocolate e beber feito doido.

O meu sócio é um pouco mais tranquilo do que eu, e também religioso, quer que a gente vá amanhã à noite num culto de igreja de crente brasileira que tem aqui perto, que é de um amigo dele, missionário daqui na região, ele disse que vai ter coral cantando e vai falar do real sentido da Páscoa e blá blá blá. Quem sabe eu mude de vida, só que não hahaha!

Mas é meu sócio e respeito a crença dele, vou só por consideração, vamos ver no que vai dar, porém duvido que alguma coisa vai mudar…

Quirenate viu os primogênitos dos egípcios morrerem com a décima praga e saiu correndo e feliz e livre do Egito, junto com seu povo, junto com Israel.

Manem acordou ás 03 horas da tarde com um estrondo vindo de Gólgota acompanhado de uma escuridão e creu que aquele judeu crucificado era realmente o filho de Deus.

Luciano ficara perplexo diante dessas duas passagens anteriores que foram citadas na Igreja e percebeu a ligação e a importância de Cristo em sua vida daquele dia em diante.

Daqui a pouco alguma vida será transformada pela história que Deus sopra no ouvido do tempo.

O que o sangue nos umbrais da porta, dos passos que Cristo deu ao carregar 80 kilos de madeira e do sócio do Luciano dirigindo o carro até a Igreja tem de comum? Estavam abrindo a porta para a transformação de um povo, de um mundo e de uma pessoa. O Cristo sendo crucificado da época do Manem é o cordeiro morto que Quirenate gostava e que era o pastor que preparava o culto pra receber o Luciano, o fim de tudo foi a liberdade, o escape da morte eterna e a proclamação de uma nova vida.

Ao aceitarmos Cristo damos crédito que enfrentaremos o mesmo mundo de sempre, só que com uma perspectiva totalmente diferente, lembrando de que sempre seremos eternamente amados e nunca abandonados.

Mais importante que a bacia de sangue foi ela ter sido espargida por cima das portas. Mais importante que sua homilética, hermenêutica, eloquência e dissertação de um sermão impecável foi o missionário lembrar de sua missão de alcançar as almas, seja quem for. Mais importante que sua ressurreição, foi sua morte de Cruz, que cumprindo as promessas e profecias, nos deu conexão direta com o Criador.

Que possamos passar essa Páscoa não sedento de chocolate e de presentes, mas presentearmos as pessoas com a Boa Nova do Reino. Amém.

Fernando Sergio
Enviado por Fernando Sergio em 15/04/2014
Reeditado em 15/04/2014
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