ANO NOVO

Os adultos hoje são como crianças,

as crianças de todas as idades são anjos

e todos os anjos

hoje gostariam de ser crianças...

Nas retrospectivas dos jornais das televisões

a vida volta em cores

e, novamente,

todos podem rever e comentar

atos e fatos do passado recente.

Abraços acontecem em profusão

em todos os lugares,

sorrisos contagiam as pessoas

de todas as idades,

algumas choram de contentamento,

e como se fosse epidemia

alastram-se pelas cidades

ora impregnadas

pelo clima ecumênico das festas.

Tudo é alegria...

Trocam-se os calendários.

Explodem milhares de fogos no ar

enfeitando a noite.

O som alegre das músicas da época

inunda as almas.

Casais enamorados, entre abraços,

buscam com olhos ávidos

os ávidos olhos dos seus parceiros

nesse mágico ritual

que se repete ao longo dos milênios.

Sinos, preces, festas, mesas fartas,

(muitas sem nada)

votos de sucesso e felicidade

inundam o mundo no Ano Novo.

Tudo parece muito bonito,

muito humano.

Entretanto, o cotidiano

escondido e assustado

permanece à espreita do término das festas

para o seu retorno

trazendo consigo seus múltiplos fantasmas

e o seu cruel poder

de transmudar homens em feras

que se ferem e se matam

sem lembrar do mágico clima das festas

e dos votos do Ano Novo.

Belém Pará, 15 de dezembro de 1984