A coisa certa
Numa dada sociedade mística, existe um ritual chamado discussão de idéias. Porém, somente os membros mais avançados no caminho podem participar desse rito, pois, para que o evento tenha o real sentido, todos devem ignorar qualquer antecedente, tanto da parte do indivíduo que coloca em pauta o tema, quanto dos que o replicam. Questões de idade, status na sociedade comum e na sociedade mística são ignorados. Outra regra é que, acabado o ritual, os participantes não podem guardar qualquer rancor ou hostilidade para com os outros debatedores. Pois bem, certa vez, tive a oportunidade de assistir a um desses eventos, como convidado (não poderia opinar, nem levantar um tema a ser discutido).
Lembro-me que um dos participantes disse para o grupo:
- Não gostei do novo namorado de minha filha. Parece um rapaz fútil, leviano e sem a menor perspectiva de um futuro digno, tanto para si próprio quanto para ela.
- Mas são só namorados, não são? - falou um outro.
- É, mas... e se para me afrontar eles resolverem levar mais adiante o namoro?
- Acalme-se, se ele for fútil e leviano, logo cansará da brincadeira provocativa e terminará o namoro. Caso, ele não canse e resolva noivar e casar, precisará planejar um futuro, arranjar um lugar para morar e tudo mais que a vida adulta exige, mostrando, assim, uma preocupação com um futuro digno, tanto para ele quanto para sua filha. O máximo que pode acontecer, se chegarem a casar e não der certo, é separarem-se. Contudo, assim mesmo, sua filha terá aprendido mais sobre a realidade da vida, estará mais forte e preparada para continuar trilhando seu caminho.
- E, se não se separarem? – perguntou o pai preocupado, sem dar-se conta do óbvio.
- Nesse caso, ela encontrou a pessoa certa para compartilhar sua vida.