Visita ao Asilo

Eu nunca fui o tipo de pessoa altruísta que o mundo precisa, mas algumas coisas nos fazem mudar aos poucos e outras nos fazem mudar dando um belo murro na nossa cara. Há alguns dias “precisei” visitar um asilo para um trabalho em grupo da faculdade, essa nota é necessária para eu conseguir fechar minha nota semestral ou então poderia pegar uma dp, então fui nesse asilo com seguinte pensamento “vou lá, tiro umas fotos e boa” o que eu não imaginava é que o murro não atingiria apenas minha cara, mas meu psicológico também foi esbofeteado e espero que essa cicatriz permaneça por um bom tempo.

Quando entrei e comecei caminhar junto a assistente social que apresentava o lugar eu observei naqueles olhos uma profundidade imensa, então me lembrei que nasci, fui criada e moro com meus avós, ao lembrar disso senti algo inexplicável para o momento, é como se eu os imaginasse naquele lugar. Mas o lugar é tão ruim assim? Sim e não. Sim, é um clima pesado e carregado de olhares profundos que levam uma história em cada um, cada pessoa conseguiu me cativar de maneira intensa, alguns foram deixados por abandono dos parentes, outros que não podiam morar sozinhos e alguns por vontade própria que denominaram de mal necessário, mas eu particularmente não gosto do termo mal necessário. Não é um lugar ruim, lá os idosinhos estão seguros, tomam os remédios nos horários corretos, tem assistência social, fisioterapia e outras coisas que todos idosos precisam. Então entramos naquela dúvida, eles seguem uma rotina, mas se dizem felizes, conversei com uma senhora que dizia que temos que aproveitar tudo hoje, porque um dia a vida leva isso de você e ela falava isso sobre seu marido que faleceu, mas que ela dizia que estava presente usando o relógio que era dele. Ela está feliz, mas não se coloque no lugar dela, coloque seus pais/avós pessoas que ama no lugar dela.

Isso tudo é o que eu senti dentro daquele lugar, sai de lá e nem me lembrava que era para um trabalho de cinco pontos, depois fui no encontro do grupo de teatro que participo e comentei tal experiência com a turma, cada um deu sua opinião e foi quando parei para pensar, quando caminho na rua nunca reclamei por um idoso na minha frente impedindo que eu passe, pois poderia ser meu avô, quando vou receber meu pagamento no banco eu nunca reclamei por uma senhora errar a senha dez vezes ou colocar o cartão da maneira errada e não conseguir pegar a aposentadoria, poderia ser minha avó, nunca reclamei por dar meu assento no ônibus para idosos pois poderia ser eu daqui quarenta anos, mas e quem não tem essas pessoas em sua vida e continuam reclamando? E isso não é apenas para idosos, deficientes físicos, gestantes e outros também sofrem com um mundo padronizado para pessoas que não são idosas, que enxergam, escutam, falam e afins.

Portanto eu pensava, meus avós têm a mim e meus pais para que façam tudo o que eles precisam, mas e os que não têm?

A experiência foi ótima, mas visitei apenas um asilo, ainda moro numa bolha que não me deixa enxergar o restante das pessoas, por isso ainda pretendo visitar outros lugares e compartilhar tal experiência.