NO ENVELHECER - UMA PROSA COM DEUS


Viver é magnificamente fantástico , e mais fantástico ainda é se viver já "no lucro", quer dizer, porque a mocidade, já dobrou a curva da estrada, o Cabo da Boa Esperança, há muitos e muitos anos, e até mesmo a idade madura é um vulto tremeluzente na estrada poeirenta, cujo sol bruxuleia, embaçando nosso próprio vulto que já se distancia.

Mas amados, por que estou a dizer isto? Porque quando se é jovem tudo é tão bonito, mas frágil e passageiro. Nós quando jovens, mudávamos de ideia como folhas de bananeira mudam de lado e posição, ao vendaval.

Adolescentes, tínhamos fogos de artifício dentro de nós. Namoradas: uma em cada cidade possível de ir, e mais algumas na mesma cidade.

Era um perigo para jovens tão ativos, as famílias serem muito grandes... Acabavam "paquerando" parentes sem saber; pior, engatavam namoros. Quando descobriam viviam fugidos e envergonhados. Mas não é bem sobre isso que desejo me referir.

Quero mesmo é falar das amizades que fazemos da idade madura para cima, e os mais jovens que frequentam essa confraria, pensando da mesma forma que nós, deixam tudo ótimo. Jovem inteligente e capaz, enfeita e valoriza qualquer lugar. Dá vida ao ambiente.

Há muitos de valor e diferentes da maioria, sem as futilidades das camadas de verniz fraco que têm grande parte da juventude de agora. Tenho amizade com vários (até apresentei uma à Academia Guaçuana de Letras) com menos da metade de minha idade, médica veterinária e já em seu quarto ou quinto livro volumosos, editados por editora de nome, e vem fazendo muito sucesso. Li o "Jogando Xadrez com os Anjos" e o achei maravilhoso, uma deliciosa ficção com ingredientes, do suspense à compaixão, passando pela crueldade humana e a bondade de pessoas que são ou não anjos verdadeiros? Só conferindo...

É um orgulho para mim um veterano, encontrar nessa menina, uma capacidade muito maior que a minha própria vinda de longa estrada.

Por que quando jovens sofríamos tanto ao "terminarmos o namoro" com alguma menina - o "broto"? - Assim é que éramos chamados - ou se fossemos bonitos éramos chamados (rsrs) de "pão"... Imaginem!

Sem falar que aquele "broto era papo firme”ou aquele "pão" era "uma brasa, mora". Tudo cenário de um tempo. Mas era uma "vie en rose", não se sabia nem se falava em drogas e outros dilemas afins. Se existisse, estaria anos luz de nós. Era um tempo de paz, sem o arsenal de problemas, perigos e violência de guerra civil de nossos dias atuais. Não é saudosismo é História.

As amizades. Hoje (pela experiência e necessidade) conhecemos as pessoas, pelo modo de levantar as sobrancelhas, franzir o nariz, fazer bico ou mordiscar os lábios, a posição com que ficam sentados indicam que querem ir embora, certos sestros, pequeno esgar de expressão, nos indicam que estão de corpo presente e espírito ausente. A forma como nos olham; sobretudo como nos falam; e a sinceridade ou não, transcende na escrita. É como se intitula um livro “O Corpo Fala”; e nos fala mesmo. Uma pessoa sem abrir a boca nos diz um relatório de satisfação ou aborrecimento conosco.

Quando jovens, só pensávamos em sorrir, ou “emburrar”, quando bravos com a menina ou ela conosco ‘despicávamos' um no outro, fazíamos ‘desaforos’, não aceitávamos a pipoca ou as balas oferecidas... Carinhos nas próximas poucas horas nem pensar... cruel vingança quando realmente estávamos amando!

Algumas por muito menos 'desaforinhos', não  as viámos  mais; e com essas nem sabíamos porque começávamosmos o namoro. E valia para elas também. Esses namoros eram os piores... Mais birrentos. Um tal da menina virar a cara e o corpo para a gente. Dava-se a volta, para a encarar, ela virava ríspida para o outro lado. Parecia um pião. Estas quando se viravam, viam que estavam sozinhas de verdade.

Vivíamos inocentes e impulsivamente.  Nas primeiras palhaçadas ou caretas de Jerry Lewis, ou as baladas de Elvis Presley e sua farda no Havaí, (serviu na Alemanha e voltou sargento), em certas ocasiões, com determinadas garotas, tudo o que acontecera  era de um distante pretérito.  

Na idade adulta, madura e a “passada do ponto” – as coisas são duradouras, porque pensadas, maquinadas, feitas para valer e decidir uma relação ou questão. Não há mais pipocas nem balas. São construções terminológicas, imbróglios e complicações nas definições jurídicas, médicas e demais áreas, que damos graças a Deus quando não são definitivas, mas apenas conceituais, ou melhor, pareceres. Mas de qualquer forma tudo pesa mais.

Na juventude "a pedra é grande, mas a sombra que ela produz não pesa nada". Na idade madura, caminhando para a velhice, a sombra é a própria pedra que carregamos.

Mas se discorremos sobre uma verdade folheando um livro de História, não quer dizer em absoluto não ser uma benção chegarmos a ficar velhos. Deus nos recompensa a fragilidade física com a perspicácia e destemor.

Somos agraciados com o aumento do léxico a sagacidade em construir textos, períodos e frases. Saltamos do conto à poesia, da poesia ao poema e poetizamos o conto. As analogias, as metáforas e parábolas estão sempre fervilhando em nossa mente.

Os amigos então que vamos colecionando: ametistas, esmeraldas, topázios, rubis, diamantes... muitos já nos vêm encrustados em ouro puro daqueles até avermelhados. Às vezes se nos apresentam pérolas da mais legítima procedência e coloração. Chegar pois, a este estágio é o grande privilégio que Deus nos oferta generosamente. Saber garimpar e conseguir achar preciosidades em minas abandonadas. Por isso envelhecer não é perda, é ganho; não é fracasso é prêmio. Só ficamos velhos por não termos morrido cedo. Pensaram nisso!?...

Obrigado Pai Eterno por esta obra de arte que é concluir uma vida povoando-a de filhos e netos, ainda que só um par de cada.

Obrigado pela preciosidade das amizades que o Senhor nos agracia, neste percorrer da existência. Por exemplo, tenho amigos, que o Senhor colocou em lugar de meus irmãos biológicos, que estão sempre se comunicando comigo, vêm sempre visitar-me. Na ocasião de minha doença, estiveram presentes. Um não só esteve presente como levou-me ao Hospital da Beneficiência Portuguesa, em São Paulo, prontamente dirigindo para mim. "Mais vale um amigo perto que um irmão distante". Eu vos agradeço por isto Pai.

Há muitos anos meus próprios irmãos não se comunicam. Não me visitaram e não se interessaram pela doença séria que atravessei e o estado de minha saúde , e o Senhor sabe que nada há de inimizade entre nós.

As pessoas estranhamente se voltaram tanto para si mesmas, que parece que não acham mais a saída do casulo ou caracol.

O que realmente importa Senhor, é a Vida, a latência dos sentimentos e os momentos de felicidade que os filhos e os netinhos nos ofertam. A saúde para desfrutarmos os momentos com eles e os amigos que nos circundam dando-nos suporte e apoio. Obrigado de alma e coração Pai Eterno.
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 18/11/2014
Reeditado em 25/11/2014
Código do texto: T5039372
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