Vergonha de viver no Brasil

Senhor Presidente Jair Bolsonaro, que posso dizer da sua atitude diante das queimadas na Amazônia? O que tenho a dizer de suas gentis declarações a respeito da idade da mulher do Presidente da França? Primeiro, posso dizer que zombar do presidente da França porque a mulher dele é mais velha do que ele não foi apenas de uma extrema grosseria e inconveniência, foi também uma imensa falta de bom senso, uma atitude digna de alguém que, numa situação em que se tem que passar por cima das diferenças e pensar no bem estar de todos, no interesse comum, age como um garoto irresponsável, comprando briga com os dirigentes de outros países.

Além de brigar inconvenientemente com a França e outros países como a Alemanha e a Noruega, o senhor ainda mostrou insensibilidade perante as queimadas que têm destruído a flora e matado tantos exemplares da bela fauna da nossa floresta. Meu coração dói ao pensar no sofrimento de animais indefesos que veem seu habitat ser destruído e nada podem fazer senão fugir. Mas o senhor, o que fez? Agiu com muita rapidez e sabedoria, primeiro dizendo que eram as ONGs para chamar atenção. Acusar alguém sem provas não é apenas irresponsável, é também antiético e o senhor deve lembrar que atribuir a alguém um crime é calúnia, crime contra a honra. Bem, o senhor deve ter aprendido muito com o ilustre estadista George W.Bush, que passou por cima do Direito Internacional e da ONU para iniciar uma guerra contra o Iraque e o Afeganistão, sendo capaz até de inventar que o primeiro tinha armas químicas. Talvez o senhor, como ele, ache que é alguém acima do bem e do mal. Quanto a mim, quem sou eu? Sou apenas uma insignificante brasileira que, como tantos outros, está se sentindo indignada e que ouviu que meu manifesto seria inútil, pois muitos outros têm se manifestado. Porém, devo falar. Assim como muitos alemães não eram a favor do nazismo e da perseguição aos judeus, eu não sou a favor de muitas coisas erradas que estou vendo. O senhor é alguém que está no topo, eu sou só uma pessoa comum que quer trabalhar e que, há anos, tem se perguntado quando o Brasil será uma nação que dá a todos condições dignas de vida.

Há muito tempo, acompanho suas ações e vi muito bem que o senhor não tem coerência. Primeiro o senhor disse que tinha gerado uma filha mulher ao fraquejar e, quando foi conveniente, para conseguir votos, fez questão de aparecer abraçado a ela, dizendo o quanto ela lhe era preciosa. Também vi sua atitude grosseira e desrespeitosa no impeachment de Dilma. Eu era a favor do impeachment, mas não gostei do fato do senhor ter elogiado o general Ustra, um notório torturador. Pior ainda foi sua grosseria para com Jean Wyllis, zombando da orientação sexual dele. Não aprovo o fato dele ter cuspido no senhor, embora reconheça que ele não suportou suas grosserias. E seus filhos ainda tentaram fazer parecer que o fato dele ter cuspido no senhor era um ato premeditado. Depois, foi provado que não. Mesmo assim, ainda há gente que o defende.

Sua atitude de que os filmes devem passar por um “filtro cultural”, falando que o Estado não irá patrocinar produções tipo Bruna Surfistinha, além de ter um cheiro de censura, é de um simplismo exagerado. O senhor ainda é do tempo em que crianças eram inocentes? Neste exato momento em que manifesto minha indignação contra suas atitudes, um monte de crianças “inocentes” deve estar acessando a Internet para ver filmes pornográficos. Proibir o cinema nacional de produzir filmes pornô não fará com que crianças e adolescentes deixem de ver pornografia. Sejamos realistas! E filho homossexual não é falta de punição física! Conheço alguns homossexuais e muitos deles apanhavam dos pais quando estes desconfiavam que os filhos não estavam agindo como “um homem deve agir”. Pior é ver sua ministra, Damares, dizendo coisas como “menino veste azul e menina, rosa.” A sexualidade das pessoas é assunto pessoal delas, o governo não tem nada a ver com isso. Muita gente votou no senhor por causa da história do kit gay, não foi? Que ingenuidade! Homossexuais sempre existiram, independentemente de ideologia de gênero, kit gay e grupos LGBT. O senhor pensa que se deve ensinar a agir como homem? Caso a educação seja assunto do seu interesse, pense no mais importante, que é ver alunos do Ensino Médio com dificuldades de cálculo e leitura. Os países de Primeiro Mundo investem em educação, em dar aos alunos conteúdos atualizados, em formar professores capacitados. O governo deve pensar nisso, não se deve pensar em ensinar que meninos devem vestir azul e meninas, roupas cor-de-rosa. Entenda também uma coisa: o senhor, como Presidente, tem que guardar suas opiniões pessoais para o senhor. Se eu quero chamar alguém para trabalhar, eu me interesso se é competente e idôneo, não se acredita em Deus, se é homo ou heterossexual.

Lamento ver que tanta gente votou no senhor, capaz de defender um torturador como Ustra. Será que leram o livro Brasil: nunca mais? Tortura é a pior coisa que acontece a um ser humano, tira a dignidade do torturado e do torturador. O senhor, ao elogiar um torturador, fez apologia de um crime hediondo. Porém, quando Fidel Castro morreu, disse que os que amam a democracia deveriam comemorar a chegada dele ao inferno. Que coerência, não? Só que, se eu falar contra o senhor, falarão que o PT roubou, que Fidel Castro foi torturador. Sim, isso é verdade. Entretanto, se Fidel Castro foi um ditador cruel, também houve uma ditadura militar no Brasil. Aliás, o senhor também deu mostras de muita sensibilidade ao se referir ao pai do Presidente da OAB, dando até a entender que sabe qual foi o fim que ele teve, não é?

Eu sinto vergonha de viver no Brasil, de ver que tantas pessoas, mesmo com todos os sinais de que o senhor dava de que não seria um bom presidente, preferiram escolhê-lo. Talvez o PT não fosse uma boa opção, todavia não posso dizer que um candidato que, em tantos anos como parlamentar, nunca apresentou um bom projeto de lei e sempre só se destacou por declarações polêmicas, grosseiras e provocativas fosse melhor. E, além de tudo isso, o senhor tem se mostrado despreparado, desprovido de capacidades diplomáticas, de habilidades em coordenar as diferenças de opinião em seu governo e de prontidão em agir num problema como o da Amazônia.

Infelizmente, estamos numa situação de “salve-se quem puder.” Aqui, eu termino meu manifesto de indignação.