As pessoas podem rezar em casa

Os tempos que estamos vivendo por causa da pandemia do coronavírus nos fizeram ter certeza de duas coisas: primeiro, que somos todos vulneráveis e precisamos nos proteger contra essa pandemia que surgiu alterando drasticamente nossas rotinas. Segundo, que, se estivermos nas mãos de governantes insensatos, iremos sofrer muito mais do que o necessário. Podemos ver muito bem como as atitudes das autoridades da Itália, do presidente Trump e do primeiro-ministro britânico foram danosas. E, no Brasil, a situação talvez piore graças à falta de habilidade do nosso ilustre Jair Messias Bolsonaro que, como em outras ocasiões que exigiram rapidez e firmeza, agiu como se o vírus não fosse nada e ainda deu um pronunciamento desastrado se referindo ao vírus como uma “gripezinha” ou “resfriadozinho.” Como resposta às suas declarações cheias de sabedoria, logo vimos que o vírus não é letal apenas para as pessoas de mais idade, mas também para os mais jovens.

Para piorar, Bolsonaro ainda disse que as igrejas deveriam continuar funcionando, justificando que as igrejas oferecem um serviço essencial. Isso quando o próprio Papa, a suprema autoridade da Igreja Católica, tem tomado todas as medidas de proteção e pastores e padres têm feito missas e cultos pela Internet. O que Bolsonaro entende por serviço essencial? Que saibamos, serviço essencial é algo que não é dispensável. O comércio de alimentos, os serviços bancários, a saúde e educação são serviços essenciais. Ninguém pode ficar sem comprar alimentos. Quanto à educação, que é mais importante, que se pode fazer? Os alunos e professores têm de ficar em casa por causa dos riscos de contágio. Por acaso Bolsonaro acha que vai haver uma espécie de redoma protegendo os fiéis que frequentam cultos nos templos evangélicos e igrejas católicas?

As pessoas podem rezar em casa. Por acaso Deus quer que as pessoas se exponham ao risco de contrair a doença? Infelizmente, Bolsonaro parece esquecer que, para um presidente, o mais importante em uma ocasião dessas é tomar medidas para impedir que o vírus se espalhe. Fé é algo individual. O presidente tem obrigação com a segurança e a saúde da população. Mas o presidente tem agido de forma tendenciosa, privilegiando grupos religiosos ( afinal, foram os religiosos que o botaram no poder) e como sempre agindo de maneira grosseira e irresponsável, deixando de dar prioridade ao que deve e comprando brigas desnecessárias. Até aliados estão contra ele, como Ronaldo Caiado (médico de formação), dizendo que ele está colocando a segurança da população em risco.

Tentar defende-lo, dizendo que ele tem boas intenções, é honesto, patriota e pela família. Chega desse discurso de campanha, que diz que o PT acabou com a família brasileira e que Bolsonaro veio para restaurar os valores cristãos, a família e a moralidade. Os acontecimentos recentes nos ensinaram que o mais importante não é a defesa de valores, é saber agir e conduzir uma nação, especialmente em tempos tortuosos como os que temos atravessado. Mais de uma vez, Bolsonaro mostrou que não sabe como agir, jogando a culpa em inimigos imaginários, minimizando a gravidade dos problemas que enfrenta e dando discursos espalhafatosos que denunciam sua falta de preparo para conduzir uma nação.

Vamos também parar de falar que ele pegou o Brasil em frangalhos. Ninguém esperava que ele fizesse milagres. Sabemos que ele não é Deus. Esperávamos apenas que mostrasse competência e sensibilidade. Nem mesmo diplomacia para lidar com os aliados ele tem demonstrado.