MOMENTOS - ISOLAMENTO SOCIAL

A gente sempre se atenta para as notícias mais alarmantes, não prestando muita atenção para as pequenas coisas. Hoje, em um vídeo onde crianças dão suas “explicações” sobre a pandemia, uma menina de apenas 7 anos disse uma frase, mas, às vezes, uma frase diz tudo o que precisa ser dito. Ela disse:

_ “Isso não vai durar para sempre, tenho esperança...”

Ela me inspirou a escrever o que segue:

MOMENTOS

Não se sabe o que se esconde atrás desses rostos mascarados, sabe-se apenas que o medo assombra o mundo. Sequer podemos nos dar as mãos.

Olhamos para os lados vazios de nossas ruas e imaginamos um mar de solidão avançando sobre os nossos caminhos.

Pensamos agora nos desvalidos, que não contam com as mesmas proteções que nos privilegiam e questionamos todos os “porquês” imagináveis para justificar essa condição, mas garantindo a nossa inviolável barreira de defesa.

Não sabemos decifrar os “genomistérios” desse mal que nos assola, apenas sabemos que o afastamento de corpos é uma prévia definição de proteção, que o isolamento social é a premissa para podermos, um dia, voltar a respirar livremente tudo o que a natureza nos proporciona de melhor.

Aquele beijo guardado terá de esperar, abraçar quem se ama e que hoje está distante, também terá de esperar, sentar ao lado do colega de classe, curtir a balada com amigos, deitar-se-se nas esteiras espiando a beleza do mar, ficar na fila esperando escolher o sabor do sorvete ou comprar bilhetes para o cinema, aquele churrasco maravilhoso com a família, viajar com quem amamos para onde quisermos, ou mesmo assistir televisão no sofá da casa da namorada ou namorado. Teremos que esperar.

Neste momento, isolados, em que podemos refletir com mais constância é que percebemos as coisas que realmente estão nos fazendo falta. Não fosse a tecnologia, estaríamos num imenso buraco negro.

Podemos visualizar o dia a dia dos que convivemos, as fotografias que um dia serão passado, o desenvolvimento das crianças que parecem crescer à velocidade da luz, e seus pais, com os olhares maturados por tantas notícias contundentes, a mudança dos móveis, o que estão comendo, como estão vivendo. Longe, mas perto dos olhos e do coração.

Mas o medo que nos assola, nos fortalece! Apenas a distância não irá prejudicar nossa vontade de vencer. E viver!

Não são palavras que nos fazem mais solidários, sequer atitudes momentâneas de fazer o bem ou sustentar pensamentos solidários que antes havíamos “esquecido” de praticar.

O que temos ao nosso alcance é algo muito maior, que ao fim deste episódio cruel que estamos vivendo, será o que irá reconstruir o nosso mundo: A FÉ !

Fé, esperança e amor são os elementos que irão reconstruir o mundo.

No momento em que voltarmos a estar de mãos dadas, iremos usá-las para renovar este imenso lar que é a Terra, trazendo-a de volta ao momento em que ela foi criada: Para ser lugar para vivermos bem e felizes, todos em um bem estar comum, cada qual com sua participação, crendo nos verdadeiros valores da vida, nos desvencilhando de hábitos desnecessários que nossa geração criou.

O que a menina falou, calou fundo na minha alma:

“Isso não vai durar para sempre, tenho esperança...”

Mário S. Andrade (um velho isolado, deitado no leito da saudade) – 14-04-2020