Ficção Jurídica

O pedagogo, palestrante e professor Rubem Alves ensinou: coisas que não existem possuem tão ou mais valor do que coisas que existem. Todos os dias os descrentes tiram onda dos crentes por acreditar em Deus ou como dizem “numa ficção” ou “conto da carochinha”. Põe Deus na mesma prateleira que o Saci Pererê ou Mula sem cabeça. Só não sabem os descrentes que a vida cotidiana é repleta de coisas que não existem. E coisas valiosíssimas. Um exemplo: A francesa Peugeot, fabricante de automóveis fundada em 1810, possui um valor de mercado na casa dos 24 bilhões de dólares. E alguém sabe quem é a Peugeot? Já a conheceu pessoalmente? A Peugeot é o que os advogados chamam de "empresa de responsabilidade limitada". Que diabo é isso? Significa que a Peugeot é legalmente independente do seu fundador ou investidores. É tão verdade que quem a fundou já morreu em 1915 e a empresa continuou existindo. Mesmo assim, os humanos convenceram milhões de pessoas a acreditar em deuses, nações e empresas de responsabilidade limitada. Esse poder de convencimento faz com que milhões de estranhos partilhem os mesmos mitos, crenças e cooperem para o bem de todos. Seria muito difícil criar igrejas, Estados e empresas se só falássemos de COISAS QUE EXISTEM.

[Este texto foi baseado na leitura do livro Sapiens de Yuval Noah Harari]