Mensagem aos Poetas

Vai poeta

rubrica tua alma, constrói tuas rimas

tuas letras, garranchos, maravilhas

vai, mostra tua tristeza, lamenta tuas vicissitudes

porque a morte existe e precisa ser chorada

embora tantos tenham medo de ser tristes,

vai, seja solitário, neurótico, sem sentido

seja o bêbado, a criança, a puta e a monja

o verme, o mastodonte, o instante e o ontem

vira o homem desempregado e o abastado

o suicida e o otimista, a judia e a atéia,

o puro de espírito e o drogado,

o criminoso, o santo e a condenada,

os puxa-sacos e os discretos,

vai, porque o artista tem a licença poética

pode ser muitos em um e ninguém se não quiser

pode ser retrógrado e vanguardista

porque olha, porque olha o que a maioria não vê

e poetiza as pedras de todo dia, a semente que contém a árvore,

o barro do pau-a-pique, o sangue que não sentimos correr no corpo,

o lado piegas das pessoas e o altruísmo quando menos se espera,

o poeta sabe que um dia tudo acaba, mas ficam as palavras

as idéias e a força de uma mente,

vai poeta

seja o nada das células, o estrume que aduba a planta que comeremos depois,

a lápide do jazigo e o reveillon, a cárie que incomoda e o dinheiro inesperado,

seja

e quando olharem teus versos e não souberem quem és

sorri como só um poeta sabe e deixa simplesmente que as cortinas

caiam.

Tatiana Brioschi
Enviado por Tatiana Brioschi em 02/01/2008
Código do texto: T799947