A colheita


Amar o que nunca pode ser amado
Sofrer o que sempre fora sofrido
Correr pelos campos com os olhos envoltos em lágrimas
Chorar por uma vida eternamente vivida.

Viver contra os ponteiros do relógio
Teimamos em sermos humanos
Lutar por uma boa dormida...
Que nossas cabeças descansem em paz.

Existe valor para as coisas não conquistadas?
Campos de trigo crescem com a forte chuva que cai
Mesmo que o sol ajude e acalante,
O negro dia alimenta

Os cabelos logo no inverno hão de entrar
As mãos por sorte ainda hão de escrever.
Mas os olhos continuarão a produzir as mesmas lágrimas
Salgadas e doces que a vida,
Em tristeza ou alegria, nos sempre trará.

Da vida não vivi a vida toda
Não chorei por todas as lágrimas
Mas cada uma que cai rega o meu trigo
Que te alimenta e é seu pão.

Não imaginas como o coração
De janelas escancaradas com o vento a toda força
Pode ainda badalar avisando:
A colheita serviu ao pão.