Amo-te II

Amo-te II

(Amor: de como a paixão escapa à razão; como o sentimento não cabe no conceito)

O universo cabe numa gota d´água, se comparado à dimensão do que sinto por ti. Por isso te escrevo, adorada. Não para que saibas ou compreendas, mas porque não cabe mais dentro de mim mesmo. É este sentimento que constrói as pontes imaginárias que nos unem na distância que, mesmo pequena, é demasiada. Chame de paixão, amor, loucura, como queira chamá-lo. Habitando dentro de mim, e fecundado por tua beleza d´alma, este sentimento se auto-denomina amor. E, como amor, recusa que qualquer outro sentimento já sentido por quem quer que seja possa, doravante, usar este nome. Seria como achar a beleza em outra parte fora de ti. Não seria possível, pois tua beleza de espírito subverte o conceito de beleza na raíz do seu entendimento. Tua beleza não é aparente e nem varia com o tempo, nem depende da luz e nem precisa de olhos para ser percebida. Ela é a afinidade incompreensível que avassala, transtorna, sufoca e submete.

O dia é curto, e mesmo o tempo é insuficiente para conter minha agonia. E é de bom grado que lhe entrego minha calma, pois é na tua inquietude que encontro minha paz, como uma estrela guia, um Norte. Mesmo que jamais a tenha em meus braços – a morte há de chegar breve e me arrancar da tua órbita -, tua presença despertou em meu espírito a natureza daquilo a que se afina mais intimamente. Viverei ao teu lado, e somente a teu lado. E é com alegria que descubro a perspectiva da vida que tinha como perdida no abismo cíclico dos dias sem-fim. A perspectiva de tê-la em meus braços, de beijá-la, traz este néctar à minha boca, este calor aos meus braços já embrutecidos com o peso do mundo que carrega na jornada.

A tristeza de não ter-te não é maior que a alegria de te encontrar, Deusa minha! Não ligue para minhas lágrimas, condensadas nestas letras, pois elas me mostram – e mostram a ti também – que há vida – e como há, vida minha, chama das minhas manhãs em brasa! – dentro deste homem que tanto te ama. E... como é egoísta de minha parte sentir tão avassalador amor sem que também o sintas! Pudesse eu retribuir-te o que me fazes sentir nas noites, nos momentos de solidão à tua espera. A eternidade é nada para te aguardar. Guardo-te como o tesouro mais precioso, que todo o ser ambiciona. Te encontrei no vazio do meu peito, de minha alma e... como tão perfeitamente me completas.

Guarda, luz de minha vida, meu amor por ti como uma jóia que nunca usas. Se um dia ousares dar-me a caridade da tua atenção, o privilégio da tua presença e a carícia do teu toque, garanto que te farei brilhar como nem o astro mais brilhante poderia fazê-lo. Por enquanto, minha alegria é ser teu, teu para todo sempre, teu como jamais alguém foi de outra pessoa amada. É por isso que te afirmo – Deusa minha, no alto do Olimpo que construí para adorar-te -, que há de se reelaborar o conceito de amor, dada a dimensão do amor que te ofereço. E te ofereço de alma pura, sem querer nada em troca, nem mesmo que leias estas simples palavras. Palavras não têm a capacidade de expressar e muito menos conter o sentimento que te ofereço, adorada, razão de minha existência.

Brilhe onde quer que estejas, ao lado de quem escolheres, hás de brilhar somente para mim, pois ninguém há de enxergar tua luz da maneira como ela reflete em meus olhos. Certamente, amor meu, nem a ti mesma te enxergas como eu faço. Por isso, compreendo se não creres em mim. Vou tentar mostrá-lo com palavras, mas não sei se é possível. Melhor o faria num sufocante beijo, num abraço infinito, no olhar que abraça a alma. Quem sabe um dia, vida minha. Quem sabe?

Deste que servilmente te ama,