Cuidado!

Cuidado!

Quisera ser o artesão destas flores, extraindo delas a seiva que a alimentasse. Quisera explorar os poentes consigo e que, então, somente nos separasse a aurora seguinte. Quisera sentir sua falta, mas só enquanto permanecesse o calor da tua companhia. Mesmo distante, sentiria a emoção da sua presença, da sua espera. Quisera discorrer sobre a natureza inusitada do meu sentimento, olhando-a nos olhos.

Mas talvez o amor não se explique, talvez esteja no tato, no cheiro, dado ser algo que incontrolavelmente transpiro muito além de simples palavras.

Se o coração é como a concha que nutre e alimenta, lenta e longamente, esse sentimento pétreo. E se é de fato amor esta inexplicável predisposição para o carinho, para a palavra mais doce, para o olhar mais brilhante e para o prazer inebriante no beijo. Então, permita que seja eu aquele a decorá-la com o brilho único da mulher amada.

Permita enfeitiçá-la com promessas sinceras e sonhos, tocá-la, senti-la, adorá-la, envolvê-la num manto de êxtase. Mas cuidado! Cuidado, pois a intensidade com que sinto nunca acaba.

A intensidade com que amo, com que toco, com que beijo, com que rio, ou com que choro. Ela me acompanha desde sempre e é raro o vaso capaz de suportá-la. Mais rara ainda é a capacidade de correspondê-la.

(Djalma Silveira)