Amor Devido

“Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama o seu próximo tem cumprido a lei.”

Numa linguagem mercadológica, o amor não é um produto e sim um serviço. Do tipo de serviço que é oferecido constantemente. Se existisse uma empresa que vendesse amor, e se nessa mesma empresa funcionasse uma equipe de callcenter (uma central de chamadas), talvez esse fosse o único lugar onde o tal do gerundismo pegaria bem. Os tradicionais, “vamos estar realizando” ou “vamos estar verificando”, quando substituídos por um bom e suave: “vamos estar amando”, com certeza seriam bem correspondidos do outro lado da linha. O gerúndio indica uma idéia de continuidade, de algo que não cessa nunca. O verbo amar se encaixa perfeitamente nessa forma.

Esse serviço de amor, que só é executado quando se ama de verdade, e que tem início, mas que não tem fim, nós estaremos sempre devendo aos nossos clientes, posto que a realização desse serviço em um dia não nos exime da responsabilidade de realizá-lo no dia seguinte. Além do que, esse é o tipo de serviço que sempre iniciaremos atrasadamente; enquanto fornecedores, estaremos sempre amando atrasado, pois os nossos clientes desejam sempre o amor mais cedo.

Poderemos não ter nenhuma restrição no Serasa ou no SPC, ou ainda não termos o nosso nome em alguma lista negra de algum agiota por aí, e ainda assim seremos eternos devedores, devedores de amor. Digo isso apenas para aqueles que desejam ser tratados com amor, pois se quiserem assim ser tratados, assim também deverão tratar. O agricultor sabe que se plantar jiló não vai ter jeito de colher melancia. Não acredite que plantando amargura você receberá compaixão. Amargura é o que semeou, amargura é o que vai colher. Não se engane!

Iniciei brincando, chamando o amor de serviço. Termino falando sério, dizendo que o amor nunca será um serviço, pelo simples fato de que ele nunca poderá ser vendido, apesar de ser devido. O amor sempre é e sempre será uma dádiva. Sempre será uma ação voluntária e graciosa. Até mesmo as prostitutas, quando percebem que não foi um serviço prestado, mas que foi amor que brotou delas, ainda que para o amado tenha sido apenas sexo, elas não cobram pelo que fizeram. Essa é a essência do amor: amar independente de ser amado, e não cobrar nada por isso, mesmo que muitos chamem esse amor de serviço e cobrem muito caro por ele.