PROMESSAS DE AMOR ESQUECIDAS.

Antes, eram duas sementes isoladas em seres diferentes. Até que , um dia, em um momento de alegria, talvez de euforia, não sei, viera a conhecer um ser que juntos lhe trouxeram e lhe deram a vida. Passado algum tempo o fato se repetiu, outras duas sementes se juntaram e, assim, um novo ser SE FORMOU - “EU”. Nascia ali um sonho - o seu sonho e o sonho dele que planejaram juntos trazer ao mundo – um filho. Durante nove meses você me sorriu, me acariciou me chamou de amor. Se foi por acaso, não sei ! Mas creio que vocês, de alguma forma, me curtiram, me amaram e, assim, passei a integrar não só os seus sonhos mas realidade de ambos. Nós não nos conhecíamos e eu, ingenuamente fui CRESCENDO e nosso vinculo e nossa história de amor foi SE ESTREITANDO. Antes dos noves meses vocês já estavam preocupados com meu bem estar; roupas, berço, escolha das cores da decoração, ou não! Mas sei que as preocupações foram muitas e eu calmamente bem aconchegado em berço natural não pensava nada e não sentia falta de agasalhos, pois seu amor me mantinha aquecido.

O tempo passou e um dia, vocês se surpreenderam com meu aviso - queria deixar todo o conforto do meu berço de ouro- ventre materno, para me fazer presente, de corpo e alma em suas vidas e ver os rostos e sentir, doravante o carinho dos braços, dos vossos beijos e poder tocar delicadamente a face daqueles que me deram a vida. Poder amenizar com meu sorriso a tristeza , o sofrimento para agradecer e redimir de cada dor sentida no parto. E não foi diferente, creio!. Ao chegar enquanto eu chorava, vocês oravam e a DEUS agradecia por eu ter chegado com saúde e lhes proporcionar tão grande alegria. A emoção foi tanta que você, ali deitada, me pegou em seus braços e falou – meu filho(a). Ingênuo(a) não podia compreender toda aquela emoção e nem vivenciá-la e lhe fazer afagos e dizer obrigada por ter me dado a oportunidade de vir ao mundo. Fui crescendo e em seus braços buscava a proteção necessária, do seu peito tirava o alimento e dos seus lábios roubava seus beijos. Das suas mãos recebia as carícias e não conto às vezes que me embalou nos braços para me fazer dormir. Tinha do lado de vocês, mãe, pai, todo o aparato para crescer, me desenvolver, ter um futuro feliz !

De repente, acordei para a vida e conheci um outro lado totalmente desconhecido e porque não dizer o lado cruel que não desejei. Não desejei porque sequer noção eu tinha da maldade que lá fora acontecia e que eu poderia ser o alvo. Alvo de uma desmedida maldade para com minha inocência e ingenuidade de menina(o). Quando sai ás ruas encontrei gente pronta, com o coração pronto, anseios e ambições que quiseram, atreves de mim, conseguir realizar tudo que suas mãos não conseguiam, sua coragem e determinação não lhe permitiam. E, assim, mãe, pai me tornei alvo da ambição de poucos que queriam muito. A rua passou a ser meu berço, os estranhos a família desconhecida que me olha com medo e teme que eu tão pequenino(a) a fira para conseguir meu intento. As pessoas inocentes que me olham com carinho passam, assim, a ter medo de mim. Há momento de solidão e de consciência que me pergunto - Cadê minha mãe que me acalentava, cadê meu pai que me provia o alimento a cama quente e a segurança que preciso tanto......Que escolha fiz, porque a liberdade das ruas me encantam? Por que me usam? E na minha ingenuidade sigo, de alguma forma, em busca do carinho que conheci enquanto guardado no ventre. Se eu pudesse pensar, raciocinar eu diria- Esta não é a vida que escolhi e voltava aos braços daqueles que diziam me amar..

Mas nesta situação em que me encontro, perdida(o) nas ruas, corrompida(o )pelo mal, sem conhecer o apoio dos que me trouxeram ao mundo, como agir, o que fazer? Não sou auto suficiente, nem idade tenho para repensar a vida. Em meu grito silencioso de socorro poderia dizer ao mundo que preciso do hoje e de um futuro. Mas como só entendo a linguagem que a necessidade me aponta, fico nas ruas a praticar o que elas me oferecem e me ensinam:

- a furtar

-a prostituição

-a usar drogas

-a ferir a quem me estende a mão

-a deixar de sonhar e deixar de ser um sonho

-a deixar de ter esperança e de pensar no futuro

Vim ao mundo para representar o futuro. Porém se desconheço o presente , o amor como sozinha lutarei se o bem desconheço.? Se meu presente, meu agora, me julga e condena a não ter um futuro, como sobreviver a essa situação esdruxula? De sonho passei a pesadelo na vida de muitos. Para a sociedade que mesmo querendo me aconchegar em seu seio, olha para mim e teme. Por que, crianças não podem ter esperanças? Sinceramente, não sei responder e nem de quem é a culpa. E você, que passa com medo de mim, poderá responder?

- Minha, que me deparei e optei, sem conhecer, sem saber, pelo mal? Dos meus pais que não tiveram coragem de me contrariar e me ensinar os limites, de me ensinar e fazer conhecer o não; da sociedade que, por não reconhecer em mim, um filho, um irmão? Do governo, das autoridades que não reconhecem em mim, a criança, o adolescente, um ser necessitado de carinho, de atenção, de pão, de educação, prefere fechar os olhos me deixar para trás e simplesmente me esquecer; da minha família, como um todo, que cansada, resolveu parar de lutar e desistir de mim, como se não tivesse culpa ?

-De quem é a culpa ? Sinceramente, não sei ! Só sei que me encontro, aqui, sujo(a) jogado na rua, pedido, sem rumo, precisando de prumo, talvez de sua mão, da sua coragem para mudar meu caminho, minha vida, meu futuro!

- Sou um ser necessitado de carinho de atenção, educação! Pai, mãe cadê vocês? O que mudou, por que me entregaram as ruas?

-Por favor me estendam a mão !

Agosto/2011

fama

Texto para reflexão. Os laços com as familias são importantes , fundamentais para que crianças vivam e crescam conhecendo o amor. São apenas botões que ainda não desabrocharam e que, talvez, jamais desabrochem pois jogadas a esmo, não sobrevivem.

fama
Enviado por fama em 15/08/2011
Reeditado em 17/08/2011
Código do texto: T3161106
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