Continuar depois que você se foi.

Alguns crédulos tolos acreditam haver uma receita para se esquecer um grande amor. Será? Acho que isso não existe mesmo. Porém, antes de mais nada, penso que não devemos esquecer um grande amor, mas separar em nosso peito um lugar para ele.

Às vezes olho para o céu, dou um suspiro, engulo seco e me coloco a seguir em diante. Este é um método que inventei há algum tempo, e uso sempre que o amor se transforma em saudade. Ainda não posso medir as conseqüências de ter em mim um amor tão forte, tão puro, tão ingênuo e arrebatador. Não sei por quanto tempo vou senti-lo, mas peço sempre que este sentimento me permita amar de novo.

As grandes paixões existem e sempre vão existir. Eu desejo que muitas pessoas possam sentir o que eu senti quando amei. Aquele entorpecimento juvenil, o peito queimando, os minutos contados para vermos a pessoa amada, os momentos juntos, as carícias que duram horas, os beijos, os abraços, as juras de amor, os planos. Ah, os planos. Não me esqueço deles. Tínhamos muitos, se lembra? Queríamos ganhar o mundo, ir a todos os lugares. Queríamos convencer as pessoas de que nosso amor era o mais puro de todos. Passávamos horas conversando, falando de nossas profissões, dos amigos em comum, dos acontecimentos em geral. Não esqueço de sua reação, estupefada, quando ouviu minha declaração de amor. Aquelas palavras ecoam em minha mente até hoje. Passo horas pensando no que aquelas palavras significariam em alguns anos.

Mas hoje eu fecho os olhos para dormir. Nas raras vezes em que consigo, os sonhos se convergem em seu sorriso. Todas as manhãs é em você que eu penso, e toda a noite agora me parece demasiada longa. O meu peito me parece tão pequeno. Passo horas deitado lembrando de nossos momentos. Uma sensação de derrota logo se apodera de mim, e depois percebo que não é sensação, é derrota mesmo.

Neste momento o que mais me machuca é a saudade. O sofrimento de estar longe é pequeno diante da emoção de pensar que fizemos tantos planos, de pensar que seu sorriso ia ser meu guia pelo resto da vida. Tudo aquilo que um dia eu sonhei, tudo aquilo que foi meu norte enquanto estávamos juntos agora se foi e eu me sinto sozinho, desamparado e sem forças para prosseguir.

Sempre me considerei uma pessoa forte. Sempre me coloquei como alguém capaz de suportar as dores do sofrimento. A realidade foi deveras distinta disso.

E o vazio logo aparece. Tudo aquilo que me lembra você está o tempo todo comigo. Se ligo o rádio, ouço uma música que me lembra algum momento a seu lado. Se passo em uma esquina, me lembro de como, às vezes, parávamos ali o carro e ficávamos horas conversando, beijando... Como eu queria que o tempo voltasse atrás. Assim, eu poderia me redimir de meus erros, fazer aquilo que você gostaria que eu fizesse. Talvez por algum tempo eu me lembrarei de nossos últimos momentos, e me lembrarei que eu poderia ter tido um comportamento diferente, sendo, quem sabe, mais alegre, mostrando menos meu sofrimento ao ver que o verão que tínhamos estava acabando para você.

Quando se ama, todos os defeitos nos parecem qualidades. Mesmo quando percebi que seu olhar não era mais o mesmo, que seus gestos já não diziam aquilo que sempre dizia, eu me recusei a acreditar que aquele amor estava chegando ao fim. Eu me recusava a acreditar e me agarrava à esperança de aquilo fosse uma fase, uma pequena confusão que passaria com o tempo.

Mas não era. Você realmente estava indo embora. Aquele boa noite, se lembra? Pois eu nunca poderia imaginar que aquele boa noite fosse também um adeus. Eu não poderia imaginar que o mundo estava, naquele momento, desabando sobre mim. Quando me dei conta da realidade, estava ali, deitado, prostado, chorando desesperadamente. Só Deus é testemunha das minhas queixas, do meu pesar e da minha dor.

Hoje eu passo o tempo todo pensando em ti. O que será que ela faz agora? Será que está almoçando? Será que está pensando em mim? Passo horas olhando para o céu tentando descobrir algo que me faça, ao menos, sentir menos tristeza. Sei que não vou sofrer, o que me castiga é a saudade. O que me dói o tempo todo é olhar para trás e ver quantos planos deixamos de realizar. Como Deus pôde ser tão injusto comigo, deixando-me à sorte de tanto sofrimento?

Os meus dias estão passando devagar. O meu método, hoje, é seguir em frente, então, e quando não der, chorar. Descobri que não há problema em chorar, mesmo porque acho que assim parte da minha tristeza se vai junto com as lágrimas. Aprendi a te amar, e agora passo meus dias tentando aprender a continuar minha vida sem você. Jamais te esquecerei.