POR AMOR AO MEU PAI

Hoje é um dia lindo ! É NATAL, dia em que comemoramos o início da vida de CRISTO em sua forma humana. Dia mundial do amor, em sua mais profunda forma de existir. Sei que todos comemoram este enlace de fé e esperança entre o homem e DEUS que nos presenteou com seu filho, para nos dar a maior das provas de amor. É um dia festivo e nos envolve de tal maneira como se estivesse mexendo com nossa essência, como se nossas almas estivessem gritando por seu amor, por sua presença.

O tempo está quente, mesmo parecendo que irá chover. Algo está me incomodando, uma nuvem escura paira sobre mim, deixando-me triste. É uma tristeza que não se relaciona com a falta de alguma coisa ou de alguém. Não é angustia... mas uma sensação de incapacidade, por não ser capaz de ajudar a quem precisa de mim, neste momento, meu pai. Passei o dia ocupada com ele.. O olho e sinto um aperto no peito, pois segundo ele o final da sua caminhada se aproxima. Converso, brinco com ele, mas o ar de seriedade em sua face é marcante. Apesar do meu amor, do meu carinho e da minha dedicação em tempo integral ele, hoje, queixou-se de estar sentindo algo. Falou-me que está se sentindo desprezado, pois a velhice e a morte são cruéis e representam o pior castigo que o homem pode ter recebido como tributo do seu pecado. Pensei que estivesse se referindo a falta de atenção por parte de alguém ou dos filhos, uma vez que a maioria mora distante. Mas demonstrou insegurança, medo em função da idade, pois tem 89 anos, e da doença uma vez que sofrera uma AVC.

Sinto–me frágil, insegura ao ver meu pai, que sempre foi um homem forte, ativo, altivo pois sempre me pareceu um pouco orgulhoso, uma vez que não aceitava ajuda, porque sempre se achou muito capaz e não queria preocupar nenhum dos filhos. Um homem altíloquo, uma vez que sempre deteve o dom da palavra e sempre discursou de forma eloqüente. Um homem com origens políticas, que sempre se dedicou ao trabalho de forma muito determinada, trabalhou em prol da comunidade, lutando por seus direitos até mesmo tendo que contrariar seu próprio pai quando pertenciam a partidos diferentes. Homem reto, trabalhou por amor. Quando representante político viajava 480km montado em cavalo somente para participar das reuniões políticas e lutar pelos direitos do povo de sua cidade. No mês que havia reuniões os 30 dias era dedicado a ida e vinda da capital pois sempre lutou pelos seus ideais.

Meu pai, o homem destemido, determinado, consciente, inteligente, que nos educou com liberdade e responsabilidade e muito amor, hoje, demonstra medo do fim...de um fim que todos nós temos por certo. Eu me sinto tão pequena, incapaz com uma sensação de abandono, uma tristeza profunda mesmo sabendo que é uma situação comum a todo ser vivo. Me sinto só, embora tenha ao meu lado minha filha querida, que sempre está disposta a me ajudar, me dizer palavras de conforto e não se cansa de colaborar. Por tudo que ela já fez por mim quando precisei de ajuda com minha mãe e agora com meu pai é muito mais do que já fiz por ela em toda minha vida.

No momento não posso pensar em nada a não ser em tentar amenizar seu sofrimento e melhorar os dias que DEUS permitir sua permaneça entre nós.. Esta é minha essência, mergulho de cabeça e faço possível e o impossível por todo aquele que busca de alguma forma a minha ajuda...Este meu comportamento é uma herança de minha mãe que nos ensinou a dividir até mesmo o que precisávamos com alguém que tivesse menos. Por que não fazer por meu pai? Portanto, se abri mão de mim mesma, dos meus objetivos, de alguém porque necessito de tempo para assistir melhor meu pai, só tenho a lamentar por sua falta de carinho e compreensã neste momento tão difícil ,por qual passo. Não posso ter pressa, ele é muito importante para mim, o resto viverei quando for possível.

Sei que é natural perdemos nossos movimentos, agilidade, reflexos, a medida que a idade nos conduz a senilidade. Passamos aos poucos, a sentir dificuldade para realizarmos algumas atividades, de locomoção, o raciocínio e nossos passos vão ficando mais lentos, mãos frágeis, a carência vai aumentando,enfim a dependência vai chegando aos poucos. Quando menos esperamos nossos pais se tornam nossos filhos. Situação difícil e irreversível. O idoso é uma criança grande com vontade própria. É preciso muito tato para lidarmos com eles e não dar para entregá-los nas mãos de estranhos. São crianças indefesas tanto quanto uma criança de colo.

Em meus sonhos de adolescente sempre desejei ter três(03) filhos. Tive um apenas. O marido não queria ter filhos. Sempre me senti irrealizada porque não tive os outros dois. Tive um só filho e nunca deixei de fazer mingaus, suquinhos, papinhas e sopinhas porque meus outros dois filhos já haviam nascido, pois foram ele que me trouxeram ao mundo. Talvez eu tenha vindo ao mundo com o objetivo e missão de amá-los de forma incomensurável e cuidar deles em sua velhice. Se pudesse eu os eternizaria e jamais os deixaria partir. Eu os eternizaria aqui junto a mim, ou se possível fosse gostaria de partir antes deles, só para não sentir esta dor, a tristeza que invade meu coração a cada dia que passa. Cada dia é mais um dia vivido e menos um para viver.

Não faz parte de minhas preocupações pensar no dia em que terei de partir. Acho que às vezes achamos que este dia nunca irá chegar porque nos sentimos jovens, capazes de lutarmos, de vencermos sozinhos os obstáculos. Mas a medida que o tempo vai passando, nossos forças vão diminuindo, a fragilidade nos deixando cada vez mais inseguros e findamos nas mãos dos parentes, a mercê de suas vontades. Portanto, você que ainda é um privilegiado por ter seus pais vivos junto a você, procure lhes dar a atenção necessária, o carinho, o amor que são de suma importância para idoso, principalmente, nesta fase da vida que é tão dura. A vida é uma troca permanente, se hoje somos crianças dependemos em tudo deles, quando envelhecemos passamos a depender da mesma forma destes filhos que criamos com tanto carinho.

Se precisamos amar nosso próximo quanto amamos a nós mesmos, imagine em se tratando de um próximo tão próximo, como nossos pais. Somos efêmeros e a vida, nosso tempo aqui na terra passa rápido. Portanto, se na vida não existir o amor necessário será que teremos vivido, ou simplesmente teremos passado pela vida?

fama-28/12/2007

fama
Enviado por fama em 28/12/2007
Reeditado em 14/02/2008
Código do texto: T794430
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