Da raposa para La Fontaine

AS UVAS E A RAPOSA

A raposa andava arrasada com a fama que corria a seu respeito. Já tinha até virado citação para exemplificar aquele que desdenha o que não consegue. Mas o pior não era isso. Ela continuava desejando e, cada vez mais, aquelas apetitosas uvas.

Às vezes passava por baixo do cacho, aparentando desinteresse. Os bichos à volta percebiam a encenação e as uvas também. Quando se sintia não vigiada, ia até lá, olhava, mas não tentava nenhum pulo para consegui-las.

Comia outras uvas. Grandes, pequenas, não importava. Sua fome era saciada no momento, mas o desejo de comer aquelas uvas , não só se mantinha como aumentava. Passava até a vê-las em sonhos com frequencia acima do normal. Resolveu que ia comê-las, custasse o que custasse. Após um programa rigoroso de condicionamento físico, acabou se sentindo apta para conseguiir abocanhar aquelas desafiadoras, inacessíveis uvas.

Convidou a bicharada toda que acompanhava o seu drama, marcou dia e hora.O local seria lá mesmo no pé de uvas.

Após um aquecimento básico e um alongamento adequado partiu em disparada em direção a elas. Estava colocando em jogo sua reputação, meses de treino intenso, finalmente iria por por terra o tal La Fontaine que popularizou aquela história a seu respeito e, o que é melhor, saborear aquelas tão desejadas uvas.

Mas... decepção total!

Quer saber se ela conseguiu? Conseguiu, sim, com estilo até, abocanhou garbosamente, sob aplausos da platéia.

Aplausos, porém que foram subitamente interrompidos, pois mal tocou as patas no chão, com uma careta cuspiu as uvas longe.

Estavam verdes mesmo!