O SILÊNCIO

Puxa vida agora é de manhã e só ouço um vira-lata latindo e o par-

dal no telhado de minha casa cantando.

É que ontem fui até ao sítio do meu amigo que fica às margens do

Rio Pardo, o mesmo onde foi escrito Os Sertões por Euclides da Cunha,

mais ou menos uns cinco ou seis km. da cidade.

Era de manhã e ela estava muito triste, pois o homem vai construir

mais uma usina para gerar energia elétrica e as águas do Rio ficarão

presas sem nunca em toda a sua história terem cometidos nenhum

deslize junto à sociedade, muito pelo contrário, elas deram de graça

ao homem toda a sua energia para que a luz viesse iluminar os caminhos por onde ele pisa e mais uma vez as suas águas foram con-

denadas e serão represadas.

Isso irá acontecer, segundo comentários, daqui mais ou menos ha

uns tres anos e quando ela estiver pronta "adeus" o seu rancho de

pesca, sua plantação de mexericas, boa parte da mata nativa aonde

encontra-se uma árvore que está beirando o seu centenário que

chama-se "jequitibá", boa parte da mata nativa que fica do outro la-

do do rio e o pior, uma cachoeira que foi batizada de "SANTA HELENA".

Porque que disse tudo isso a você?

É porque quando paramos para fechar a porteira tudo estava em

SILÊNCIO, apenas ouvia as águas que passavam por entre as pedras

da cachoeira, fechei os olhos e disse para um amigo que estava ao

meu lado:

-Você está ouvido que som maravilhoso?

-Não, não estou ouvindo nada.

Compreendi, pois essa é a diferença de quem percebe os detalhes da

vida, da natureza e até de si próprio, pois parecia que junto ao

"Silêncio" e com os sons das águas, eu viajava em fração de segundo

para bem distante.

Resumindo, aprendi muito com esta mensagem, só que junto aos

amigos depois de um jogo de futebol o "Silêncio" não se fez presente

para mim e pra ninguém, isto é, coloquei a boca no trombone e falei

o que tinha que falar, só depois que cheguei em casa perguntei-me

-Porque que não fiquei em "SILÊNCIO"?