As vestes de Eliseu versus a capa de Elias - 2Re4

Quero chamar a atenção agora para três peculiaridades no chamado de Eliseu. A primeira e segunda na companhia insistente de Eliseu no trajeto de Elias. Sua resposta foi sempre pronta e decidida, como já vimos na nota anterior.

“Porém ele disse: Vive o Senhor, e vive a tua alma, que não te deixarei. E assim foram a Betel [e Jericó depois]...” (2 Re 2.2,4). Nas duas primeiras viagens o texto segue esta mesma fórmula. Na terceira há um diferencial que não deve ser desprezado.

“E Elias disse: Fica-te aqui... Vive o Senhor, e vive a tua alma, que não te deixarei. E assim ambos foram juntos” (2.6).

Entendo que nas duas primeiras vezes Eliseu tinha como meta o desejo maior do valor profético, enquanto que na última o alvo maior era o amor pelo profeta que logo seria tomado aos céus. Muitos também seguiram a Jesus por causa dos milagres e bênçãos derramadas, mas poucos foram até o fim por amor de sua pessoa. Lembra aquela passagem em que Jesus pergunta três vezes a Pedro se ele realmente O amava.

Estamos dispostos a servir nosso Senhor por tudo O QUE Ele tem feito ou por QUEM Ele é?

Entendo também que sua insistência em segui-lo, mesmo com Elias dizendo para não acompanhá-lo, mostram aquela disposição, aquela resolução absoluta em seguir custe o que custar.

Na verdade, Elias e Deus o testavam quanto à sua resolução em continuar o ministério que Elias havia começado. Jesus tinha uma figura para isto.

“E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (Lc 9.62).

Esta observação mais ácida de Jesus segue exatamente um descaso para com seu chamado anterior.

“Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa” (Lc 9:61).

Com Eliseu não havia ‘mas’. Estava de todo resoluto não só a servir ao Senhor, como certamente também ansiava a mudança da situação de seu povo, e talvez até de si mesmo. O que nos leva ao terceiro ponto.

No momento exato da partida de Elias, suas vestes são transfiguradas.

“E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel, e seus cavaleiros! E nunca mais o viu; e, pegando as suas vestes, rasgou-as em duas partes. Também levantou a capa de Elias, que dele caíra; e, voltando-se, parou à margem do Jordão” (2:11-13).

Eliseu rasgou suas vestes numa clara alusão a uma figura bem conhecida no Novo Testamento. Tudo seria bem diferente agora.

“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito da vossa mente; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4:22-24).

Ninguém pode militar a favor do Senhor e do seu reino nas condições humanas de desejos carnais e enganos. Estas devem morrer para que o Espírito do Senhor possa agir livremente. Um novo Eliseu, segundo o Senhor, sai daquela cena. E o levantar da capa de Elias revela que o ministério de Elias continuaria, mas através de outra vida – agora Eliseu.

Atente para o fato de que a capa é a mesma, mas não a pessoa. A base profética será a mesma, apesar do indivíduo mudar. Quero salientar este ponto pois será motivo de nosso próximo encontro.

Enquanto isto, ore ao Senhor da seara para descobrir qual será sua atuação no reino de Deus e se preparar para estes tempos cruciais e finais.