Eliseu – parêntese profético - 2Re6

Nesta nota abordaremos uma sequência de cinco milagres, como um parêntesis profético, que além de espelhar em muito o ministério de Jesus enquanto peregrinava no meio de seu povo Israel, também mostram a triste condição espiritual de Israel naqueles tempos.

No primeiro caso, uma viúva dos filhos dos profetas (2 Re 4.1), por causa da morte do marido, ou seja, devido à morte da profecia verdadeira dentre os filhos de Israel e Judá, corre o risco de ver seus dois filhos (simbolicamente Israel do norte e Judá no sul) vendidos como escravos para saldar a dívida. O milagre em questão fala do azeite multiplicado que trará bênção e tranquilidade para sua casa. Jesus veio sob esta unção específica e poderosa do Espírito em sua vida, “porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida” (Jo 3:34).

O segundo milagre conta de uma mulher sunamita, portanto da tribo de Issacar ao norte, que, na velhice de seu marido, não podia ter filhos, assim como Israel nos tempos de Jesus não conseguia gerar filhos para arrependimento. Realizado o milagre na vida daquela mulher pela atuação de Eliseu, ela gera um filho que depois de algum tempo morrerá, e pela nova atuação de Eliseu ressuscitará. Israel, nos tempos de Jesus, gerou um pequeno rebanho de fiéis que não representava a totalidade do povo, mas era apenas um remanescente débil e perseguido. A nação teve sua vida nacional cortada pela força de Roma, mas ainda será revivificada quando do milagre maior do derramamento do Espírito sobre toda carne de que profetiza Joel.

“E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões” (Jl 2:28).

O terceiro milagre trata da panela com ervas contaminadas que um grupo havia preparado por causa da fome na terra. A simbologia é muito interessante. Vale a pena destacar.

“E, voltando Eliseu a Gilgal, havia fome naquela terra... Então um deles [filhos dos profetas] saiu ao campo a apanhar ervas, e achou uma parra brava [espécie de trepadeira], e colheu dela enchendo a sua capa de colocíntidas [fruto venenoso nascido em trepadeira]; e veio, e as cortou na panela do caldo; porque não as conheciam” (2 Re 4:38-39).

Gilgal foi a cidade assim denominada quando, passando Israel o Jordão, levantou 12 pedras “para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias” (Js 4.24) e, após a circuncisão de todo o povo, seu Deus declarou: “Hoje retirei de sobre vós o opróbrio do Egito; por isso o nome daquele lugar se chamou Gilgal, até ao dia de hoje” (5:9).

Vemos então novamente filhos de profetas envolvidos, na cidade que deveria lembrá-los da escravidão do Egito, levando a entender que a profecia que vinha dos falsos profetas daquele momento estava matando o povo. Somente um Eliseu, prefigurando Jesus mais à frente, poderia tirar ‘a morte da panela’ pelo simples acréscimo de um ingrediente – a farinha. Sobre esta figura, Jesus representa em si mesmo o poder de salvação pelo esmagar do trigo na composição da farinha que se mistura ao povo e o liberta.

“E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12:23-24).

O esmagamento ficaria por conta do Pai – “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo” (Is 53:10).

O quarto milagre foi uma multiplicação de 20 pães de cevada (e os Evangelhos relatam 2 multiplicações de pães por Jesus) que havia saído dos pães das primícias (fruto da primeira colheita) e algumas espigas verdes. Ambos alimentos faziam parte do ritual das leis de Moisés como oferta das primícias (Lv 2).

O terceiro milagre que vimos anteriormente, falava de forma negativa da remoção da morte pelo acréscimo da farinha. Este quarto milagre fala positivamente da multiplicação da bendita massa das primícias. O primeiro removia simplesmente o mal, o segundo alcança todo o povo para vida, lembrando sempre que onde aumenta o pecado, multiplica a graça. Este quarto milagre, que de alguma forma enfoca a fome espiritual, antecipa o momento quando a Palavra de Deus encherá toda a terra pela plenitude de Israel governando o mundo através de seu Messias Jesus entronizado, em tempo futuro muito próximo.

No entanto o quinto milagre, a cura de Naamã o siro (um gentio), diz algo sobre a possível mudança dos atos de Deus ao favorecer um gentio, visto que sua própria nação o rejeitava. Ouçamos as palavras de Acabe, rei de Israel, ao ouvir que aquele gentio procurava cura dentre seu povo.

“E sucedeu que, lendo o rei de Israel a carta, rasgou as suas vestes, e disse: Sou eu Deus, para matar e para vivificar, para que este envie a mim um homem, para que eu o cure da sua lepra? Pelo que deveras notai, peço-vos, e vede que busca ocasião contra mim” (5.7).

Não foi para isto mesmo que o Senhor chamou Abraão de sua terra, e depois anunciando a Jacó que “na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 28:14)?

No entanto, o testemunho que este e tantos outros reis, e toda a nação como um todo, davam era uma incredulidade indigna de tudo o que o Senhor já havia feito por eles. A justa repreensão do Mestre conclui esta transferência do reino para outro povo que desse os frutos esperados por Deus.

“E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro. E todos, na sinagoga, ouvindo estas coisas, se encheram de ira” (Lc 4:27,28).

Possamos nós, como oliveira brava enxertada no ramo principal do Israel profético, conclamar a todos que se arrependam, pois o Senhor e seu galardão se aproximam rapidamente.

Continuaremos a seguir com outros dois interessantes milagres de Eliseu simbolizando tempos distantes, mas nem tanto agora!