3ª Parte: NATUREZA DAS PENAS

O Purgatório é um lugar de purificação, que assustaria, porém, os maiores penitentes, os mais dedicados amigos da Cruz. Por quê ? Porque a purificação realizada no Purgatório é inteiramente diferente daquela que Deus costuma aplicar nesta vida. A purificação feita aqui é meritória, em atenção à Paixão e Morte de Jesus Cristo. A purificação, porém, no Purgatório é um sofrimento que não oferece o menor merecimento; são penas de que a alma, contra a vontade de Deus, se tornou merecedora pelos pecados. Davi pediu a Deus: “ Senhor, não me arguas em teu furor, nem me castigues na tua ira”; isto, segundo a explicação de Santo Agostinho, quer dizer: Assisti-me, ó meu Deus, para que não mereça vossa ira, isto é, as penas do purgatório.

Quem são aquelas almas que penam no Purgatório ? Pela maioria não são nossas conhecidas, mas entre todas nenhuma há que nos seja estranha. Todas elas, sem exceção alguma, são unidas a nós pelo laço da graça santificante: são portanto nossas irmãs em Jesus Cristo. Como não negamos o nosso socorro ao nosso irmão grandemente necessitado, não devemos negá-lo às pobres almas, que sofrem incomparavelmente mais, sem a possibilidade de melhorar a sua sorte, ainda mais, quando temos em nossas mãos meios poderosos para aliviar-lhes as dores. Não haverá entre as almas uma ou outra, que nos deva interessar mais de perto ? Descendo em espírito às trevas do Purgatório, lá não descobriremos talvez as almas de nossos pais, parentes, amigos e benfeitores ? A caridade, a gratidão não exigem de nós, que lhes prestemos o nosso auxílio ? Não têm elas direito à nossa intervenção, ainda mais quando as penas lhe foram causadas por pecados que cometeram talvez por nossa culpa ?

É natural e justo que devemos expansão à nossa dor, quando um dos nossos queridos entes nos é arrebatado pela morte; o verdadeiro amor, porém, exige de nós alguma coisa mais. Cumpre que unamos as nossas lágrimas ao sacrifício de Jesus Cristo no Gólgota; cumpre que a nossa dor seja uma dor ativa, como ativa foi também a dor que Jesus Cristo sentiu junto ao túmulo do amigo Lázaro. A nossa dor pela perda dos nossos pais, parentes e amigos não se deve limitar a manifestações exteriores. Por mais ricas que sejam as coroas depositadas nos túmulos dos nossos mortos; por mais vistosos que se apresentem os monumentos que lhes erigimos sobre os restos mortais, não preservam o corpo da decomposição, nem defendem a alma contra os tormentos do Purgatório. Não querendo fazer-nos culpados de ingratidão e inconsciência, é mister que empreguemos os meios que a Igreja tão generosamente nos oferece, como sejam: a recepção dos santos Sacramentos, em particular a SS. Eucaristia, o santo sacrifício da Missa, obras de penitência e caridade, as santas indulgências, etc. Um Pai Nosso rezado com devoção e humildade pelas almas, vale mais que muitas coroas; uma santa Missa celebrada pelo descanso eterno de uma alma, aproveita-lhes infinitamente mais que um suntuoso monumento, porque a santa Missa é o sacrifício expiatório por excelência.

O espírito pagão, que, com sua ostentação vaidosa e balofa, se infiltrou em todas as camadas da nossa sociedade, procura também se insinuar no santuário, o que em grande parte já conseguiu. Como são diferentes os enterros de hoje, daqueles que os primeiros cristãos faziam nas catacumbas ! Naquele tempo havia muita devoção e pouca flor; hoje há pelo contrário, uma imensidade de flores e coroas e pouca ou nenhuma devoção. Os primeiros cristãos levavam os defuntos ao cemitério, cantando salmos e recitando orações; os cristãos de hoje acompanham os enterros por simples formalidade, sem lhes vir a idéia de rezar uma Ave Maria sequer pelo descanso do falecido; os primeiros cristãos confiavam os defuntos com muito carinho à terra, como uma semente preciosa da futura ressurreição gloriosa; os enterros de hoje são quase destituídos por completo de tudo que possa lembrar as verdades eternas.

Como é bela a devoção às almas do Purgatório! Agradável a Deus, proveitosa às pobres almas, é utilíssima a nós mesmos. Não fechemos o nosso ouvido aos gemidos dos nossos irmãos, que padecem no Purgatório. Eles levantam as mãos para nós, suplicando o nosso auxílio. Talvez sejam nossos pais; um pai amoroso, que nos dedicava os seus cuidados, dia e noite; talvez a mãe, que nos amava tão ternamente; irmãos, cuja morte tanto nos entristeceu; filhos, que eram o encanto da nossa vida; o esposo, sempre tão dedicado e fiel cumpridor dos deveres; a esposa, a fiel companheira, o anjo do lar. Todos sofrem, sofrem penas amargas, impossibilitados de melhorar a sorte. A nós se dirigem suplicantes: “Compadecei-vos de mim, ao menos vós, que sois meus amigos, porque a mão do Senhor me tocou” . (Job. 19, 21).

FONTE: http://www.paginaoriente.com/catecismo/ceinp.htm

Evangelizador
Enviado por Evangelizador em 20/06/2009
Reeditado em 20/06/2009
Código do texto: T1658376