Em Memória

O manto da noite deita-se sobre os homens, e é quando ninguém está olhando, que as lágrimas escapam, e uma a uma, contam histórias daqueles que se foram, daqueles que sorriram para a vida, nos amaram, e partiram apenas desejando que não sofrêssemos. Pessoas maravilhosas nascem entre nós, presentes de Deus, como se dissesse: “Eis ai uma dádiva minha, um anjo que se fez carne, aprenda, e aproveite, pois logo o chamarei de volta a mim.” E esses anjos nos tocam, e modificam algo que nos muda para o resto da vida, que nos faz pensar em nós mesmo, e questionar: quem somos? O que fazemos? Do que temos medo? Como viveremos nossas vidas? O que faremos com o tempo que nos foi dado? "Viva com amor" dizemos a nós mesmos, mas como é nosso amor? Um amor contido, envergonhado, reprimido! Pergunto-me se algum dia eu já senti realmente o Amor, se quando disse “eu te amo”, se dizia mecanicamente, apenas para agradar, ou se realmente havia verdade em meus lábios. Passo a vigiar meus pensamentos, e percebo que cada gesto, cada palavra, o tom de voz que ouvi desse “anjo enviado” gravado em minha confusa memória, é carregado de algo tão, eu diria, diferente.

Observo as estrelas, minhas eternas companheiras, apontando-me um lugar onde aqueles que partiram, hoje descobrem um novo começo e preparam talvez, nossa chegada, que se dará em algum dia imprevisto, e quem sabe nos reencontremos, afinal, como dizem aqueles que realmente se amam: isso não é um "adeus", é no máximo um “Até logo”.

Se eu fechar os olhos talvez sinta sua presença, talvez até sua mão sobre meus cabelos, como se me abençoasse. Ecos de vozes distantes talvez passem com o sopro do vento, e quem sabe eu ouça por mais uma vez meu nome com a ternura que somente ele sabia dizer.

Jamais direi que gostaria que ele estivesse aqui novamente, embora talvez eu desejasse, jamais direi que foi tomado de mim, embora a tristeza jorre de meu coração, a única coisa que realmente lamento, foi não ter aproveitado mais, não ter desfrutado de sua companhia, doçura e experiência. Havia tanto que eu poderia ter aprendido, tanto a ser experimentado, tanto que poderíamos ter aproveitado! Foram 17 anos de ausência, um tempo realmente perdido, que joguei fora ante a um anjo de Deus que ele era. Mas onde quer que esteja, sei que olha por mim, e sei que me perdoou, e que sorri do meu lamento, me chamando de tolo. Onde quer que esteja agora, meu querido avô, saiba que levo comigo suas palavras.

Em memória do meu querido avô, que foi um anjo entre nós

De se incorrigível neto... Lucas Damasio

Lucas Damasio
Enviado por Lucas Damasio em 01/05/2007
Reeditado em 12/07/2008
Código do texto: T471084
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