A PLACIDEZ DOS LAGOS...


Todos nós já estivemos nas proximidades de um lago e pudemos notar a tranquilidade que a água nos transmite.Na maioria das vezes ela se assemelha a um perfeito espelho,despertando-nos um verdadeiro sentimento narcisista.Imaginemos alguém se aproximando de mansinho, enquanto nos deleitamos com a nossa imagem refletida na placidez desta água,e esta pessoa jogue uma pedrinha na sua superfície. Mentalmente estamos registrando aqueles círculos concêntricos que se formam e se desdobram sucessivamente até a orla externa do lago.As moléculas se movem como em um turbilhão desfazendo toda aquela placidez cristalina onde nos víamos refletidos.

Assim é a nossa vida.Dias tranquilos se desdobram diante de nós,que até nos esquecemos, muitas vezes, de agredecer ao Creador por tamanha bênção. Desfrutamos das horas repletas do generoso trabalho; do convívio dos familiares e amigos; das horas de lazer escolhidos por nós para o refazimento das nossas energias, sempre desejando que estas se perpetuem por um longo tempo.Mas...eis que de repente, a mão do destino, a fatalidade, o karma, a expiação...dêem o nome que quiserem, chega de mansinho e nos sacode com um fato extra que jamais desejaríamos para nós e sequer imaginávamos ele fosse nos alcançar.Assim foi comigo, assim é com todos.

No dia 24 de abril do ano 2000, a minha filha foi levada do meu convívio através de um brutal acidente de carro. Jovem, apenas 29 anos, na época, enfermeira, exercendo a profissão com muito amor, com a cabecinha repleta de sonhos e planos, foi-se...sem aviso prévio.

Condenei o motorista,meu filho, que não houvera atendido o apelo do irmão advertindo o pneu traseiro estar careca e não ter condições para a viagem; os motoristas das carretas que realizavam uma ultrapassagem irregular forçando-o a sair para o acostamento cheio de cascalho que provocou o estouro do pneu e  o desgoverno do carro; a velocidade com que ele dirigia que, ao meu ver, deveria ser alta o que não lhe permitiu controlar o carro; e o outro motorista que, sem culpa alguma, colidiu com o que ela estava, batendo mais desastrosamente no lado em que ela se situava, já que ao retornar à pista desgovernado ele deslizou lateralmente de encontro ao outro.

Por fim, não tendo a quem mais culpar, culpei a Deus. Perguntei-lhe por que não me levou já que eu tinha realizado tantas coisas...Já tinha tido os meus filhos, exercido a minha profissão de magistério e enfermagem,curtido filhos e netos , enfim...tinha vivido mais,eu supunha.

Deus não respondia às minhas crises de depressão,de lágrimas e até de revolta.Um dia lancei-me ao solo e supliquei: -Senhor, já que não sou digna de obter uma resposta Tua, pelo menos ameniza a minha dor.

Aos poucos,segundo após segundo...minuto após minuto,
hora após hora...dia após dia...ano após ano...convivo com esta dor amarga,sem nome, apenas envolta numa incomensurável saudade. Assim é a vida. Assim é com todos nós!

As tragédias nos chocam sobramaneira. A dor esmaga-nos mostrando-nos a nossa pequenez e impotência diante do Cosmo e das suas Leis, diante de Deus.O que nos parece uma traição ou conspiração da vida,por certo tem um outro significado diante destas Leis Naturais que regem o nosso progresso . Aceitar os fatos é difícil,quase impossível. Sei apenas que uma Força me sustenta e dá-me alento no meu dia-a-dia,insuflando-me coragem para prosseguir até o momento do nosso futuro reencontro. Espero que esta Força esteja presente na vida de todos os que foram vítimas de tragédias sustentando-os.

Seja Deus o nosso refúgio onde possamos repousar em todos os dias da nossa vida, principalmente nos momentos de aflição . Deixemos os possíveis culpados nas mãos do Creador pois sabemos que as Leis Divinas são sábias e justas e cumprem-se no seu devido tempo.



Um final de tarde lindo para todos.Bjss e paz!

Imagem do site google:
http://graosdeareia.blogspot.com/2006_06_01_archive.html