Condenamos muito e ajudamos tão pouco!

Condenamos muito e ajudamos tão pouco!

Hoje vinha caminhando pela rua e notei um alvoroço na entrada de uma lanchonete, curioso como todo ser humano atravessei a rua para ver do que se tratava.

Ouvi pessoas que falavam duras palavras a um andarilho que ali se encontrava. Ninguém o ouvia apenas o condenava pela sua aparência, o pobre homem ali implorando e pedindo para falar talvez para se explicar, mas de nada adiantava.

Aquele homem com a barba grande, sujo e até cheirando mal era difícil de não se notar, após uns minutos apareceu um homem e pedindo licença foi entrando em meio às pessoas que ali se encontrava.

Um senhor bem trajado parecia até mesmo ser um doutor, tinha uma voz suave que ao ouvir transmitia felicidade, uma alegria, com um sorriso pediu que deixassem aquele ser menos favorecido pela vida falar.

Perguntaram-lhe seu nome e o andarilho disse se chamar João, começo a contar sua historia e ali muitos começou a lhe dar atenção, dizia que já tinha sido alguém na vida, que tivera já felicidade e alegria.

Disse que há muitos anos era morador de rua, que perdeu a vontade de viver, então uma mulher que ali se encontrava curiosa perguntou o por quê?

Disse ele com voz macia que era um engenheiro formado, que tivera em sua vida um bom emprego, uma família e muita felicidade com tudo que tinha.

Explicou que um dia ao passear com sua família estava vindo de carro de um parque infantil, que passara o dia brincando com seus filhos e sua amada esposa, mas o que ele não esperava é que a sua felicidade estava com os dias contados.

Em um cruzamento teve que parar em um semáforo, seus filhos brincando no banco de traz e sua esposa a frente sorrindo alegre, contente por mais aquele dia.

Mas ao ver um menino que vinha vindo em sua direção ficou apavorado engatou a marcha e acelerou o seu carro, com aquilo entrou na frente de um caminhão que vinha vindo, apertou o freio, mas não encontro e de frente com o caminhão colidiu, ouve gritos, choros, desespero, mas ele ali nada podia, apenas era também uma das vitimas.

Ao chegar naquele hospital viu que chegara sozinho, meio atordoado perguntou por sua esposa e filhos, mas ali no estado em que se encontrava nenhum médico lhe disse o que aconteceu com sua preciosa família.

Após recobrar totalmente sua consciência e sair daquela UTI um médico com uma voz um tanto cheia de dor lhe contou o acontecido, disse que seu carro colidiu por que estava sem freio, talvez tivesse passado em algum lugar e estourado algum cabo, relatou que um homem que vinha vindo com seu filho notou algo de estranho embaixo do carro e pediu para que o menino fosse lhe falar, para que assim não pensasse ele que fosse algum assalto ou algo deste tipo.

João novamente perguntou de sua família, mas aquele doutor ali do seu lado com lagrimas nos olhos falou que infelizmente somente ele restou daquele acidente, por uma fatalidade não tinha mais seus filhos e esposa.

João falando aquelas palavras começou a chorar e todos ali se comoveram, disse que não encontrou forças para vencer aquele preconceito que tive por aquele menino que apenas queria lhe salvar a vida.

Que naquele momento de grande dor, de angustia, de tristeza profunda não encontrara aqueles que diziam ser seus grandes amigos, apenas pessoas para lhe dizer que superaria aquela tragédia.

Relatou que muito lutou, mas a sensação de culpa o perseguia e o consumia sem alguém para apóiá-lo e ajuda-lo a passar por tudo aquilo, não teve forças sozinho e aos poucos se entregou sem ao menos perceber.

Seus parentes o condenaram pelo acontecido e queriam parte do que tinha em sua vida, disse João que passou todos seus bens, pois mesmo que vendesse nunca traria de volta sua esposa e filhos.

Então sem rumo certo começou a andar pelas ruas e quando deu conta já havia passado dez longos anos. Com aquelas palavras todos se sentiram com vergonha até mesmo, e eu me senti o mais baixo ser humano pelo preconceito que ali dominava.

Percebi naquelas palavras de dor, de angustia, aflição, desespero, que praticamente sempre olhamos para nós mesmos se esquecendo que existem pessoas ao nosso lado com sentimentos.

Temos nossos momentos de felicidades, de alegria e não compartilhamos nossas conquistas apenas servem para mostrar que conquistamos, sem pensar em quantos que poderíamos ajudar.

Que quando estamos tristes sempre procuramos alguém para desabafar, falar dos medos e também das angustias, mas quando alguém precisa de nós muitas vezes colocamos obstáculos dizendo que não temos tempo, que tudo vai passar e esquecemos do ombro amigo que tivemos nos momentos de nossa franqueza.

Pensei como somos egoístas de ver a necessidade de muitos e fazermos tão pouco, como somos seres muitas vezes mesquinhos que pensamos, mas em nós mesmos, esqueci que por muitas vezes uma palavra, um gesto amigo vale mais que qualquer soma em dinheiro.

Percebi que muitas das vezes condenamos, sem ouvir o lado da história de quem a esta vivendo, que nos apegamos pelas aparências e esquecemos que somos seres que contem sentimentos, não percebemos que muitas vezes fazemos apenas o que a sociedade nos cobra, assim esquecendo de fazer o bem sem olhar a quem.

Que muitos quando ajuda, sai dizendo para todos o aplaudirem-lo, esquecendo que a vida pode dar muitas voltas e que este mundo apesar de se dizer infinito esquece que tudo que se faz de bom ou mau volta para nós mesmos, talvez de outra forma, mas sempre volta.

Não sou perfeito, mas hoje antes de condenar, ou criticar uma pessoa, faço isso comigo mesmo para que quem saiba um dia eu mesmo não venha a cair e ficar sem uma palavra ou um gesto amigo como ficou aquele cujo seu nome era João.

Autor: Edson Apolonio