DESPEDINDO O EGOÍSMO

Egoísmo não é chupar duas laranja sozinho, ou ter apenas uma e não ceder a outra banda. Isso é apenas uma reação de alguém que gosta muito de laranja. Como diria um filósofo chinês: “Quem come e não reparte nada, fica com a barriga inchada.” Quem age dessa maneira pode correr esse risco. Mas, na verdade, egoísmo vai muito além disso.

Sou egoísta quando não divulgo a minha alegria, para que esta contagie a outros; quando não me permito ser ajudado; quando não abro mão de um sonho, para que o sonho do outro se realize; quando me nomeio o mais ocupado do ano, e por isso não tenho tempo pra ninguém; quando guardo só pra mim uma boa história; quando escondo o que escrevo; quando deixo de dizer o quanto amo; quando contribuo por interesse; quando a oferta é obrigação; quando finjo não ouvir; quando penso em alguém só pra mim.

Será que tudo está ligado a viver pra outros ou pra mim mesmo? Nem uma coisa nem outra. Tudo está ligado a viver sem amarras. As amarras impostas pelo modo social de viver, pelo moralismo estabelecido, é que nos fazem introverter; ou seja, voltar-se para dentro. Falo de “amarras”, porque foi a primeira palavra que surgiu na mente para definir esta imposição do modo social “perfeito” de viver. Dizem por aí: “ame ao próximo”; “ajude a quem tem fome”, “dê esmola”, “estenda a mão ao necessitado”; frases que são ditas como regras de conduta, e ai de quem não cumprir! Não temos que “fazer” assim, temos que “ser” assim. Não pode ser como uma obrigação moral, como no tempo da lei, vivida pelos judeus. Tem que ser como a graça de Deus, derramada através de Jesus; onde não havia legalmente necessidade de Jesus ter padecido, mas como um favor imerecido, Deus entregou o seu filho por amor de nós. Assim deve ser o nosso proceder, agindo pela graça que nos foi concedida.

Quando Jesus disse para amar ao próximo, disse que deveria ser da forma que amamos a nós mesmos. Jesus deixou claro que essa distinção de amores “INTRA” e “EXTRA” não deveria existir. Da forma como eu tenho necessidades, qualquer outro ser humano também tem. O modo como ajudo alguém dando um prato de comida, é o mesmo modo que utilizo para fazer a minha barriga parar de “roncar”. O modo é não ter modo. Quase como um instinto. Uma tendência natural. Sem fazer maiores ponderações, sem se aperceber do bem que faz.

Quando a consciência é ativada pelo ato que tomamos, o peito se enche de si, a ponto de não caber dentro tanta bondade. Se isso acontece, já não resta amor pelo outro, mas apenas por si mesmo. “Eu sou de mais!”, “Eu sou o cara!”. O ego se torna maior do que qualquer outra coisa.

Egoísmo não é estar olhando pra si, mas é olhar pra si mais do que olhar para o outro. Egoísmo é quebrar a igualdade: amo a mim = amo a você. Não é deixar de me amar, mas é me amar tanto quanto amo você. Deus é o único que tem o direito de ser egoísta, pois Ele pode ser o que quiser. Porém, preferiu igualar os amores. Tanto quanto Ele se ama e deseja que seja feita a sua vontade, ama ao homem de igual maneira, tornando-o a sua própria imagem e semelhança.