Budismo: Aliviando o Peso Morto

Conta-se que no passado dois homens de negócios viajaram a certo país para avaliar a possibilidade da instalação de uma fábrica de calçados. Dizem que o primeiro vendedor, desiludido, teria dito ao seu chefe para desistir da idéia da fábrica, já que “naquele país todos andavam descalços”. Já o segundo vendedor, entusiasmado, teria pedido ao seu chefe para providenciar rapidamente a montagem da fábrica, já que “naquele país todos andavam descalços.”

O primeiro deparou-se com o “impossível”.

O segundo, com uma “oportunidade grandiosa”.

Se ambos viram uma coisa só- as pessoas andavam descalças- como podem ter enxergado coisas tão diferentes?

Cada pessoa vê o mundo com sua “lente pessoal”. Esta lente é formada pelas experiências anteriores e fatores emocionais momentâneos. Desta forma, criamos “verdades pessoais”, totalmente desconectadas com a realidade. A maioria das pessoas olha qualquer coisa, mas só enxerga suas opiniões sobre aquilo.

As pessoas pessimistas desanimam-se facilmente por que carregam sobre si o peso de “incontáveis cadáveres”. É o peso morto do passado que carregam consigo. Alguns dão a impressão de que tratam o fracasso como um valioso tesouro- “as minhas mágoas”, e repelem os conselhos que visam libertá-las disso. Fala-se muito em apego a bens materiais, todavia minha opinião é de que existem formas de apego particularmente mais difíceis de vencer:

• O apego às opiniões pessoais.

• O apego ao passado.

Carregando esses apegos conosco veremos os “fantasmas do passado” onde outros, com a mente vazia, enxergam meras oportunidades.

Quem conseguiria viver de verdade estando cheio desses apegos? Buda compara um homem cheio de apegos a uma pessoa que afunda nas águas agarrado em uma pedra, e mesmo afundando, teimosamente não se solta dela.

Entrar no agora, sair do passado, voltar ao estado original de iniciante... O momento presente é tão flexível como a argila. Com ele podemos modelar o que quisermos. As crianças ainda acessam parcialmente a mente original, pois livres dos conceitos de “passado” e “futuro” vivem o agora, sentem leveza e alegria, mesmo com coisas simples. Para elas tudo está cheio de possibilidades. Esta é a “mente de principiante” da qual fala o budismo e nela não temos tantas complicações.

Não estou estimulando ninguém a esquecer suas “raízes”, sua “história de vida”, mas sim a liberar-se do fardo acumulado que tornou-se inconveniente. Com esse estado de abertura, ficamos receptivos a novas possibilidades, removendo o mofo do passado, mantendo intacto o frescor e a vivacidade da mente.

ps. Brevemente publicarei um livro com reflexões budistas, quem desejar ser informado do lançamento, favor enviar-me um e-mail.