A INGRATIDÃO

A ingratidão, considero eu, é uma das piores coisas que um ser humano pode ter. Enquanto a gratidão creio que é uma das maiores virtudes humanas, e a que hoje em dia menos encontramos na sociedade. Muitos já leram ou escutaram a historia dos 10 leprosos curados pelo Senhor. Todos foram curados, contudo, somente um deles voltou para agradecer. A percentagem é muito pequena, apenas 10% (dez por cento).

Há certas coisas que acontecem conosco em determinados momentos e que somente alguém pode resolvê-las ou nos ajudar naquele momento. Na hora em que estamos necessitados somos mui gentis com aqueles que nos estendem a mão para nos ajudar. Decorrido algum tempo, todavia, quando já resolvemos o que precisávamos, e aquele fato já faz parte do passado, aqueles que nos ajudaram passam a ser esquecidos, e, às vezes, até mesmo injuriados por nós, e ainda chegamos a dizer: “Se não fosse tal pessoa, seria outra que faria isso, não devo nada a ninguém”.

E eu me pergunto: Será isso uma verdade? Será que Deus não tinha somente essa maneira e aquela pessoa para resolver aquela coisa naquele momento? Será que no momento em que desprezamos esse fato, não estamos apenas desprezando a pessoa que nos ajudou, mas o próprio Deus que se encarregou de organizar tudo para nós? Eu tenho uma sensação forte, até convicção, de que Deus tem as suas formas de atuar e para isso tem que usar pessoas e coisas importantes no seu propósito naquele dia, hora, minuto e segundo.

Eu também posso ilustrar isso com um exemplo na minha própria pele. Para que nascesse meu primeiro filho, Jonathas, eu tive que me submeter a vários tratamentos médicos, fiz duas vezes inseminaçao “in vivo” e três vezes inseminaçao “in vitro”. Não posso contar a quantidade de injeções, ultrassonografias, coleta de sangue, anestesias, internamentos. Houve dias em que não se conseguia encontrar mais lugar no meu corpo para aplicar injeção, estava tudo dolorido e inchado, sem contar o stress de dezenas de viagens de João Pessoa a Recife.

Depois de tudo, passamos nove meses de inquietudes, expectativa e ansiedade para chegar o dia do seu nascimento, esperando que tudo ocorresse de forma normal. Inclusive tive que fazer uma cesárea para que ele nao tivesse problemas para nascer, uma vez que nao se colocava na posiçao fetal para um parto natural. Nao dá para descrever em poucas linhas, nem tampouco transmir as sensaçoes, e todas as coisas que nos passaram naquela época. Depois do seu nascimento, veio o cuidado com alimentação, e com todas as coisas que envolvem a criação de um filho.

Agora imagine você, se quando ele crescer venha falar para mim: “Se eu não tivesse nascido de você, teria sido de outra, não devo nada a você”. Como nos sentiríamos nós, os pais? É como enfiar um punhal de garganta abaixo.

É esse mesmo tipo de sentimento que tenho quando ouço que alguém cujo nascimento espiritual foi realizado com a nossa humilde participação está falando dessa maneira. Quem quer que haja nascido de novo, procure relembrar sua vida espiritual, desde antes da sua salvação, e pense quem falou algo e ajudou você a nascer. Claro, você pode dizer que foi Deus, mas Deus não age sem o homem, e o homem não age sem sua alma. Se fosse assim não teríamos nada armazenado dentro de nós, nenhuma memória, nenhuma história, seriamos simples marionetes. O Espírito Santo preparou o caminho, mas alguém, uma pessoa, veio cooperar com Ele.

E aqui tomo emprestadas as palavras de um amado irmão que escreveu um livro sobre ser do Senhor de todo o coração: “É um sintoma da boa saúde espiritual reconhecer e não esquecer as pessoas que nos ajudaram a conhecer a Cristo; seu tempo, sua dedicação, suas casas abertas, sua entrega e, em muitos casos, sofrimentos que passaram para fazer real esse encontro. Nunca se deve desprender do coração esta gratidão. Deus usa estas vidas para que no meio do deserto, da sequidão na qual todos andamos um dia, nos mostrem um oásis, onde encontramos o perdão e a oportunidade de renascer a uma nova vida. Relembras quem te levou ao conhecimento de Cristo, te mostrou Seus pés e os vistes tão maravilhosos como para render-te diante deles e seguir Seus passos? Eu, sim.”

Eu não posso esquecer jamais a Humberto e a Carmem, meus pais em Cristo, eles suportaram tantas coisas para que fôssemos salvos. Jamais eu gostaria de saber que alguém lhes causou um mal, e eu mesma não gostaria de sujar essa boa lembrança, uma lembrança terna que tenho deles ajudando nesse “parto” e cuidando dos filhos. Essa recordação levarei comigo eternamente. E o que mais sinto por eles no mais íntimo do meu ser é gratidão, reconhecendo todo o seu labor e tudo o que eles suportaram para que eu me tornasse filha de Deus. Agora procure fazer você também uma retrospectiva e verificar a sua origem espiritual, talvez você fique admirado de lembrar que aquele que você no momento tanto despreza é o mesmo que ajudou a cortar o seu cordão umbilical.

Fátima Fonseca
Enviado por Fátima Fonseca em 31/07/2006
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