Yo no soy marinero, soy capitán

Uma conquista, sem dúvida, da reforma protestante, foi o assento (Bíblico) do sacerdócio universal dos crentes. Entende-se com isso, que todos têm acesso ao Pai, sem carência de nenhum mediador, senão, Jesus Cristo. (I Tim; 2; 5)

Essa visão opõe-se ao domínio clerical, onde, apenas uma elite espiritual teria o privilégio, tornando assim, o povo, dependente da intercessão dos tais.

O que ocorre nos dias atuais, porém, é uma confusão entre sacerdócio universal e ministério universal. Por falta de equilíbrio, temperança, oscilamos do clericalismo ao laicismo; ora, meia dúzia de coroados somente, pode tudo; outra, todos podem igualmente serem ministros de Deus. Ambas as posições carecem de fundamento nas escrituras.

Se, por um lado, qualquer salvo tem acesso ao Pai mediante Cristo, por outro, o dom de ensinar a Palavra, não se espraia sobre todos. Paulo, aconselhando aos romanos exortou-os a não se exercitarem em coisas maiores que seus entendimentos, quando disse: “Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.” (Rom 12; 3)

Sobre a arte de ensinar, entretanto, foi Tiago o mais enfático: “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.” ( Tg 3; 1)

Acontece que o que se vê por aí, lembra uma frase de uma antiga música chamada “La Bamba” que dizia: “Yo no soy marinero, soy capitán, soy capitán.” De igual modo, quase já não há ovelhas, uma vez que todos sabem como apascentar.

Sem jamais terem sido discípulos, nem conhecerem as regras básicas de hermenêutica, uma leva de neófitos tem se arvorado em ministros da Palavra, com resultado catastrófico, no âmbito doutrinário.

Sobre nossos dias, aliás, também foi Paulo que vaticinou: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências.” (II Tim 4.; 3)

A implicação desse oba-oba ministerial, é que os homens seriam mais prudentes que Deus. Sim, pois, para exercer um ofício qualquer no âmbito social, são exigidas as devidas credenciais, e para o ministério espiritual, qualquer um, que decore meia dúzia de versos, parece habilitado.

Em outros tempos, o labor do inimigo era lançar heresias no seio da igreja; agora, ele alimenta a sede de poder, latente no homem carnal, e as heresias brotam espontâneas, como tendo vida própria.

Entretanto, não é necessário ensinar prudência a Deus, que há muito advertiu sobre os predicados de seus ministros: “Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia

6 Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. (I Tim 3; ss)

Se para estar apto a dirigir um mero veículo, somos analisados no aspecto teórico, prático, psicológico e intelectual, quão maior deve ser o cuidado no que tange ao mister daqueles que atuam na área espiritual, cujas conseqüências podem ser eternas!!!

Por falta de atenção aí, que temos os servos de Mamon, a famigerada teologia da prosperidade, e todos os vícios rituais que grassam no meio neopentecostal.

Três coisas são básicas, enfim, para almejar alguém, o ministério: Conversão genuína, testemunho coerente, e preparo eficaz.

O deveras convertido, passa a ver pelos olhos do Espírito, querendo o mesmo que Deus quer; “Se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas passaram e eis que tudo se fez novo.” (II Cor 5; 17)

O testemunho coerente, além de atestar a necessária maturidade, torna-se um precursor do evangelho, prepara o caminho pelo exemplo como diz o conselho paulino; “Calçados os pés na preparação do evangelho da paz” (Ef 6; 15)

Finalmente, o preparo eficaz, capacita a ter zelo com entendimento, tirando de possíveis heresias, o único benefício que elas podem trazer; a ocasião de manifestarmos nossa posição em favor da verdade e de Deus. “E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem.” (I Cor 11; 19)

Então, embora sejam necessários os “capitães” são em pequeno número, em ralação aos soldados, e bastam, desde que sigam o preceito bíblico, no que tange aos ministros: “Procura apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, pois, maneja bem a palavra da verdade.” (II Tim 2; 15)

Leonel Santos
Enviado por Leonel Santos em 15/10/2011
Código do texto: T3277910