A coruja e o girassol

“Na verdade, o Filho do homem vai segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído! E começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isto. Houve também entre eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior.” Luc 22; 22 a 24

Lucas relata contíguos, dois extremos da personalidade humana; orgulho e humildade. Quando Jesus denunciou que um seria traidor, breve inquietação assomou; quem? Acaso seria eu, pensou cada um; entretanto, dissipada essa inoportuna presença, de ter que cogitar por um pouco ser mau, voltaram todos a uma questão de peso: Quem era o maior.

De certo modo, isso acontece com todos nós. Pouca acuidade, interesse em investigar defeitos, falhas; e indevida pretensão de grandeza.

Aí vêm psicólogos dizer que sofremos baixa autoestima, que nada! O ser humano é orgulhoso; quando se faz de coitadinho manipula; se confrontado com seus defeitos, tergiversa, foge, disfarça acusa que lhe revela, mas não assume-se. Se não me engano foi La Fontaine que disse: “O melhor negócio da terra seria comprar os homens pelo que valem, e revendê-los pelo que pensam que valem.”

Apesar de admirarmos a beleza coletiva de um bando, um cardume, uma manada; cultuamos a “beleza” individualista do campeão, o melhor de todos; o fera.

Não obstante a Igreja seja comparada a um corpo e cada um deve ser uma célula interligada ao todo pelo mesmo Espírito, o que se ê é uma espécie de piscina de bolinhas, um amontoado de indivíduos, cada um com sua cor e circunferência peculiar; sua pele intocável de porco-espinho. O orgulho pode se disfarçar de humildade até fracassar quando testado; humildade não se disfarça de nada, nem quer ser vista; só aparece se as circunstâncias demandam sua presença.

Nessa levada de liberalismo, ausência de Absoluto, onde cada um crê no que quer, da maneira que quiser, se está forjando a igreja ecumênica, a Babilônia do Apocalipse. Quem ousar ainda mencionar “ácidos morais” como, pecado, Vontade de Deus, Bíblia, será desqualificado e isolado, pelo vírus contagioso do “discurso do ódio” que ameaçará à Nova Ordem Mundial.

Aliás, outro dia o site “Famosidades” veiculou que o jogador Neymar pretende fazer uma tatuagem com uma cruz, uma coroa, e junto, o texto bíblico que segue: “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.” I Cor 9; 24

Isso, grosso modo, parece sugerir que Paulo esposa a ideia do individualismo, tipo um vale tudo, pra levar a grana do BBB. O mesmo Paulo ensina como se interpretam as coisas; “...comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus...” I Cor 2; 13 e 14

Ele tomou a figura de um atleta que renuncia muitos prazeres em vista da vitória como referencial para os cristãos, não para que haja um vencedor ímpar, mas, para que haja renúncia e esforços semelhantes; exista coerência entre profissão e atitudes, como disse a seguir; “Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” Vs 26 e 27

Com o devido respeito, pois, embora o referido atleta mande muito bem em sua profissão, espiritualmente não serve de exemplo para nada; aliás, sua fama é de “pegador”. Cruz e coroa são belos motivos, mas não para tatuagem; antes, carregar dignamente a primeira durante a vida, para receber a segunda após.

A Palavra de Deus é preciosa, mas não para se pinçar esse ou aquele texto ao sabor das inclinações naturais; assim, até os jovens que tentam seduzir alguém, encontrarão “motivos bíblicos” em Cantares, onde Deus “abona” suas cantadas. Até doutrina absolutamente anticristãs lançam mão de textos bíblicos eventuais, em busca de uma auréola de seriedade santa para a camuflagem do profano.

Aliás, todas as seitas ditas cristãs, são “bíblicas” desse modo; escolhem a parte que lhes agrada mais das Escrituras, e ignoram o restante. Todavia, o Senhor Ensina: “Nem só de pão viverá o homem, mas, de Toda a Palavra que procede da boca de Deus”. Mt 4; 4

Um símbolo tem lá seu valor, quando há a essência por trás da representação, quando substância e figura fundem-se de certa forma; senão, pode ser mera profanação. Muitos cantores de rock, satanistas confessos, usam crucifixos em seus “looks” góticos; É possível fazer a vontade das trevas e brincar com algumas nuances de luz; nada impede de uma coruja, animal noturno, pousar sobre um girassol...