Homens como árvores

Jesus estava numa região de pesca, no nordeste do mar da Galileia, a alguns quilômetros de Cafarnaum. Terra natal de Pedro, André e Felipe, aqueles a quem Jesus chamou para serem “pescadores de homens.” Mt. 4:19
Há um chamado para que sejamos usados para trazer/pescar almas para o Reino de Deus.
O que significa pertencer ao reino de Deus? Significa ter nossa vida transformada, nosso olhar mudado, nosso estilo de vida totalmente voltado para a eternidade, enquanto vivemos aqui na terra. Somos chamados/pescados para ter dupla nacionalidade - Uma terrena e outra eterna. Transitamos entre o espiritual e o secular. Temos um tesouro em vasos de barro: o barro é o nosso corpo, o ouro a palavra de Deus em nós, como semente de vida eterna.

Marcos 8 nos fala do confronto de Jesus com a incredulidade dos fariseus; Jesus disse que a hipocrisia é como fermento. Ele faz a massa crescer.... Dá uma aparência ao que na verdade não é.
Quem eram os fariseus? Religiosos que se gabavam de sua pureza, mas que acabaram desprezando os demais homens por se acharem melhores que os outros. Viviam uma fé artificial. A lei serviu ao orgulho deles, não para fazê-los buscar a Deus em profundidade. Os fariseus crucificaram Jesus, porque não aceitavam seus ensinos. Embora fossem tão cultos, se tornaram cegos. Podemos dizer que tinham olhos, mas não enxergavam, tinham vista, mas não tinham visão.

A bíblia em Marcos 8:22 mostra um cego de nascença que foi tirado de sua aldeia e levado a Jesus.
“E trouxeram-lhe um cego e rogaram-lhe que lhe tocasse.” Nós, a Igreja do Senhor levamos os homens a Jesus através do evangelho, das orações, das súplicas e do nosso testemunho.
Há um amor pelos homens que se encontram ‘cegos’ no mundo. Nós pregamos, mas a obra quem faz é o Espírito Santo. Nenhum homem é capaz de mover o coração de outro homem para temer a Deus. Nenhum homem é capaz de convencer outro homem sobre o poder do Espírito Santo, do pecado, do juízo e da justiça, somente o Espírito Santo.
Jesus tomou o cego pela mão e o levou para fora da aldeia. É preciso deixar-se ser guiado por Jesus. É preciso sair da aldeia. Interessante lembrar que hoje vivemos em uma “aldeia global”, a globalização quer nos tornar uniformes. Uma cultura global pode roubar nossa identidade... Pode nos fazer massa de manobra. Hoje, de alguma forma, as redes sociais assim o fazem. É muito bom estarmos conectados. A tecnologia é uma ferramenta maravilhosa, contudo também pode ser um instrumento de alienação, de conformidade. Muitos vivem a ilusão das redes, como se fosse realidade. Estamos sendo roubados da vida real, do nosso verdadeiro eu quando somos dominados por mídias sociais.
Jesus então cuspiu nos seus olhos e impôs suas mãos sobre o cego e perguntou-lhe se via alguma coisa.
Pesquisei sobre a função da saliva e vi que ela mantém a umidade em alta, remove o excesso de bactérias e outros microrganismos, a saliva ajuda a criar um bolo pastoso que ajuda na deglutição do alimento, para escorregar mais fácil no esôfago.
A saliva de Jesus naquele cego o ajuda a ver o mundo. Precisamos da água da Palavra de Deus, do fluido do Espírito Santo para nos ensinar a ver a vida com a perspectiva de Deus. Precisamos aprender a digerir/ a comer a palavra de Deus e deixar que a saliva de Jesus nos ensine a enxergar devidamente a revelação oculta nos fatos que não compreendemos através da nossa visão biológica apenas. Precisamos comer a palavra. Precisamos meditar nela, ruminar, mastigar a Palavra em nosso coração e na nossa mente, regada pelo hálito do Senhor, pela intimidade com Jesus. A oração é a forma como regamos com a água da vida nosso interior. O profeta Ezequiel teve uma visão na qual lhe foi ordenado que comesse o rolo. (Ez 3.1)

O primeiro toque são as primeiras experiências que temos quando chegamos a Deus.
“Vejo os homens como árvores que andam” Muitos de nós estamos assim, dando os nossos primeiros passos, ainda não temos experiências profundas com Deus. O homem é muito mais que árvores que andam...
Infelizmente hoje, muitos estão cegos espiritualmente, só conseguem ver o que suas ideologias políticas ou rótulos culturais os ensinam. Assim como os fariseus que rejeitaram Jesus. Veem, mas com as lentes do próprio egoísmo, arrogância e vaidade. Tem vista, tem informação, têm religiosidade, têm aparência, mas não têm a essência, não têm a motivação correta, não têm a revelação que pode nos libertar, se a obedecemos.
Veem-se a si mesmos e os outros através daquilo que a cultura ao redor lhes impõe. Mas somos muito mais do que o lugar em que fomos plantados, somos muito mais do que a nossa identidade terrena. É preciso nos desarraigar das raízes humanas e carnais e nos enraizar na eternidade do Senhor, através da intimidade com a palavra. Estarmos intimamente ligados a Jesus de modo que a saliva dele seja o que nos limpa.
Árvores que andam não têm raízes fixas, o salmo 1, no entanto diz que o justo será “como árvore plantada junto à corrente de águas...” raízes plantadas no céu. Como Jesus, em João 4, disse à Samaritana que do seu interior fluiriam rios de água viva que saltam para a vida eterna.

Precisamos da água do espírito para limpar nossos olhos cegos pelos ídolos erguidos pela nossa vã maneira de viver.
Depois, tornou a pôr as mãos nos olhos e ele, olhando firmemente, ficou restabelecido e já via longe, distintamente a todos.
Precisamos aprender a enxergar mais longe... Que nossa caminhada com Jesus não pare no primeiro toque, na primeira experiência. Para enxergarmos longe precisamos fixar nossos olhos em Jesus. Precisamos nos apegar às verdades que Ele tem a nos ensinar, e assim conseguimos ver os homens e a vida segundo o propósito de Deus. Precisamos buscar intimidade com Jesus, de modo a fixarmos nossos objetivos e motivos somente em Deus. Não podemos nos esconder na zona cinza dos nossos preconceitos e medo da mudança. Muitas vezes, servir a Cristo significa sair da zona de conforto emocional em que nos encontramos. Os fariseus não abriam mão da sua posição, daquilo que lhe foi ensinado, da tradição da lei.

Hoje todos buscam uma identidade, muitos querem ser reconhecidos como de “direita, esquerda, marxista, católico, protestante, branco, preto...” Todos querem construir uma identidade. No entanto, quanto mais buscamos construir nossas identidades, tanto mais nos colocamos em oposição ao outro.
Nunca houve um tempo de tamanha polarização. “Eu de cá, você de lá”, o mundo vai se dividindo em tribos... Vamos empacotando as pessoas de acordo com suas ideologias. Vestindo homens e mulheres de conceitos e ideias e cada vez mais vamos nos distanciando da imagem real que Deus quer para seus filhos.
É claro que devemos ter nossas posições... Temos o direito de construir nossa história e valores culturais. Mas aquele a quem o Espírito ‘’pescou” aprende a viver em águas mais profundas. APRENDEMOS a ver os homens como filhos de Deus. Temos uma identidade eterna. Estamos atrelados a um projeto eterno de salvação. Vamos além dos rótulos.
O Espírito Santo nos educa o olhar. Aprendemos a não politizar o que é espiritual. Aprendemos a ver os filhos de Deus além do rótulo cultural. O Espírito Santo ama rasgar rótulos, tirar etiquetas desmascarar personagens. Deus nos enxerga como filhos, ele nos chama pelo nome. Ele enxerga nosso íntimo. Que aprendamos a apurar o nosso olhar para não vivermos na superfície das aparências. Se nossa segurança depende da nossa ‘persona’, do personagem que pensamos exercer na sociedade, sinto informar, que o papel do Espírito Santo e nos despir de tudo aquilo que nos impede de estarmos face a face com Deus. Temos que morrer para quem pensamos que somos, para viver no Espírito.

Alguns exemplos bíblicos de pessoas que tiveram seus valores sócio-culturais mudados

A mulher sírio-fenícia, é um dos exemplos, entre outros tantos que estão na Bíblia. Se você não conhece a passagem, leia em Mateus 15:21-28. (Leia: ‘Uma Mulher de Atitude”, aqui na minha página, para entender melhor o contexto.) Não era filha da promessa, considerada como “cachorrinho”, da descendência de Jezabel, inimigos do povo Israelita, no entanto, ao se elevar além da aparência da cultura que a aprisionava, entendeu o que os intelectuais, religiosos e políticos da época não entenderam, porque o Espírito tira a venda que a cultura impõe. Jesus, ao confrontá-la com sua cultura, que dizia que ela era inimiga e inferior, invertia os papéis naquele momento. Jesus fazia com ela, o mesmo que os fariseus faziam com ele. Jesus, com aquele diálogo, quis nos ensinar que ele também, foi desprezado pelos seus, do mesmo modo como aquela mulher era desprezada por eles. Ele quis mostrar, com a inversão de papeis, que os ‘cachorrinhos’ debaixo da mesa foram mais espirituais do que os que estavam à mesa do rei. Aqueles que pela lei tinham direito ao banquete rejeitaram, enquanto ela, uma estrangeira aceitou o Senhorio do Senhor Jesus.
Aprendemos aqui, que se aquela mulher olhasse para a conjuntura sócio-política que a cercava, ela certamente cancelaria Jesus e o chamaria de fanático ou inimigo. Eu de cá você de lá. Mas ela, diz a palavra, foi, aproximou-se, se prostrou e adorou. Ela foi ao encontro de um homem que segundo sua cultura seria seu inimigo, mas ela se elevou para acima dos estereótipos. Mostrou que queria ser renovada em seu entendimento para receber seu milagre, foi além do que lhe foi ensinado pela cultura do ódio.

Outro exemplo é o da mulher samaritana, considerada como impura, mas que foi alcançada por Jesus, que chegou a conversar com ela. Naquela época Judeus e Samaritanos não se relacionavam. Os Samaritanos eram considerados sub-raça, judeus misturados com gentios. Além do mais, ela era mulher e não era casada. Aquela mulher foi canal de bênção para seus amigos, porque Deus não vê com o olhar da cultura local. Jesus veio tirar os rótulos.

Saulo de Tarso, um intelectual e religioso teve que ficar ‘cego’ momentaneamente, para aprender a enxergar espiritualmente o que não conseguia, por ter se tornado um religioso radical e sem amor. Perseguia a Igreja, consentiu na morte de Estevão, porque seu olhar era de um religioso, não o olhar do Espírito Santo. Mas quando a luz do Espírito brilhou em seu coração, Saulo foi transformado em Paulo – o pregador dos gentios.

Jesus veio quebrar paradigmas e desembrulhar nosso espírito. Estamos acostumados a etiquetar os filhos de Deus a quem ele vê além das aparências humanas. Vestimos a mortalha da existência, e achamos que é tudo o de que precisamos. Esquecemos que para sermos revestidos como eleitos do Senhor temos que viver debaixo da multiforme graça de Deus. Temos que nos despir do velho homem e seus preconceitos, que muitas vezes vêm disfarçados em  doutrinas, ideologias e culturas a que estamos expostos. Costuramos nosso olhar  e vestimos a nossa visão de nós e do mundo num manto de conceitos que não refletem o plano de Deus para nós.   Então, vem o Espírito Santo, e sopra vida em nós e passamos a ter um relacionamento maravilhoso com Jesus.

Em tempos de tanto ódio, lembremos que podemos discordar, podemos professar nossa fé, podemos fazer nossas escolhas políticas, mas isso não faz o nosso caráter. Somos muito mais do que o que o nosso voto, somos muito mais do que o que vestimos. Somos maiores do que qualquer ideologia.
Sim, eu mesma amo o vale do Jequitinhonha, Pedra Azul, cidade meio baiana e meio mineira, amo muito a cultura local, sou produto dessa cultura. Mas Deus tem muito mais para mim. Não sou apenas o que minha carteira de identidade diz que eu sou. Tenho impressões digitais de Deus em meu DNA.
Jesus teve um encontro pessoal com religiosos, políticos, prostitutas, ladrões, todo tipo de gente e tribos. Em tempos tão polarizados, que aprendamos a ver as nuances do espírito humano.

Precisamos educar nosso olhar para ver o outro, como nossa imagem ao contrário. O amor é o vínculo da perfeição. É o maior mandamento. Quem quer ser seguidor de Cristo, tem que aprender a aprimorar o olhar... do contrário, passaremos a vida toda achando que estamos vendo apenas esquerda, direita, religiosos, ateus, homossexuais, pentecostais, tradicionais e não seres humanos, filhos de Deus, aqueles por quem Cristo morreu.
Posso discordar, não preciso ser politicamente correto, mas minhas palavras devem ser carregadas da água do Espírito e da Graça de Deus, porque senão nos afogaremos nesse mar de confusão que a diversidade de informação nos trouxe. O amor é o maior mandamento; façamos ao outro o que queremos que ele nos faça!

Um dia perguntaram a Helen Keller que se tornou cega aos 19 anos, como ela conseguia perceber tanto as coisas ao seu redor. Cega e surda, conseguiu superar suas dificuldades e tornou-se escritora e ativista em favor das mulheres e das pessoas com deficiência. Foi ela quem disse que com a cegueira e a surdez ela aprimorou outros sentidos. Ela disse que muitos têm olhos mas não têm visão.
Precisamos morrer para nós mesmos, para vivermos para Deus. “O Deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhe não resplandeça a luz do evangelho da gloria de Cristo, que é a imagem de Deus.” 2 Cor. 4:4
Jesus disse que veio ao mundo para que os “cegos vejam e os que veem se tornem cegos.” Jo. 9:39.
É preciso trocar as lentes! Que você possa ter um encontro pessoal com Jesus para que sua visão de mundo seja transformada.
Que nós aprendamos a enxergar os outros pela lente do amor.
Não precisamos concordar, posso falar e ouvir coisas com as quais não concordo! Mas não preciso fazer guerra, não preciso vencer sempre.
Que O Espírito Santo nos ensine a conviver com as diferenças; mesmo porque, só sei quem sou eu, só escolho o que quero para mim, porque vejo o que não quero ser no outro, de alguma forma, o outro é meu espelho... Segundo a linguística, significado só emerge a partir do contraste. Palavras têm frente e verso, é uma relação binária.
Deixemos os julgamentos para Deus, a nós compete respeitar, amar e pregar a palavra que salva!