Seu Nome é Jesus

Deus veio até a casa, desdizendo-se de sua glória.

Pediu licença ao ventre de uma menina sacudido por um decreto de César,

e se tornou um de nós: um palestino entre tantos, em sua rua sem número,

semiartesão de toscas tarefas, que vê passar os romanos e as andorinhas,

que morre depois, de morte ruim, matada, fora da Cidade.

Já sei que faz muito que os sabeis,

que vo-lo dizem, que o sabeis friamente

porque vo-lo disseram com palavras frias…

Eu quero que o saibais de repente,hoje, quiçá,

pela primeira vez,absortos, desconcertados, livres de todo mito,

livres de tantas mesquinhas liberdades.

Quero que vo-lo diga o Espírito, qual machadada em tronco vivo!

Quero que O sintais como um esto de sangue no coração da rotina,

em meio a esta carreira de rodas entrechocadas.

Quero que tropeceis com Ele como se tropeça com a porta da Casa,

retornados da guerra, sob o olhar e o beijo impaciente do Pai.

Quero que O griteis como um alarido de vitória pela guerra perdida,

ou como o parto sangrante da esperança no leito de vosso tédio, noite adentro, apagada toda ciência.

Quero que O encontreis, em um total abraço; Companheiro, Amor, Resposta.

Podereis duvidar de que haja vindo para casa, se esperais que vos mostre a patente dos prodígios, se quereis que vos sancione a desídia da vida.

Mas não podeis negar que seu nome é Jesus, com patente de pobre.

E não podeis negar-me que O estais esperando com a louca carência de vossa vida rejeitada como se espera o sopro para sair da asfixia quando a morte já se enroscava ao pescoço, como uma serpente de perguntas.

Seu nome é Jesus.

Seu nome é como seria nosso nome se fossemos, de verdade, nós mesmos.

Pedro Casaldáliga
Enviado por Antonio Garcia Neto em 01/03/2022
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